Título: Garotinho e Rigotto combatem prorrogação das prévias do PMDB
Autor: Janaina Vilela, César Felício e Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2005, Política, p. A4

Os dois pré-candidatos do PMDB à Presidência da República, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho e o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, só têm um interesse comum na disputa: evitar que a ala governista do partido adie as prévias de março para junho de 2006. Isolado no PMDB mas com pontuação nas pesquisas, Garotinho tem priorizado o contato direto com os delegados da legenda, num movimento de apoio que seus aliados definem como "de fora para dentro". Só este mês, o ex-governador do Rio vai visitar 56 cidades para tentar consolidar seu nome. Em entrevista ao Valor, ele disse ter tido a garantia do presidente da legenda, Michel Temer, de que as prévias não serão adiadas. "Eu acho muito difícil e pouco provável os governistas conseguirem se articular. Eu tenho viajado em boa parte do Brasil. Há uma empolgação pela candidatura própria, independentemente de quem seja o candidato. O PMDB não pode ficar respondendo por esta política econômica e por um governo corrupto que não é seu", disse. Para Rigotto, que teria que se desincompatibilizar do seu cargo de governador sem garantia de candidatura, o adiamento inviabilizaria sua postulação. "Não posso me desincompatibilizar em cima de uma hipótese", admitiu o governador, partindo em seguida para o ataque: "Se os presidentes estaduais do partido forem consultados, todos serão a favor das prévias em março", diz. Para integrantes do PMDB que têm acompanhado de perto o dia-a-dia do pré-candidato, as prévias "são a única maneira de Garotinho conseguir sair candidato pelo partido, uma vez que numa convenção as chances de vitória seriam quase nulas". Um parlamentar que preferiu não se identificar disse que, apesar de confiante, o ex-governador ainda teme uma mudança na configuração das prévias: "Garotinho quer ganhar essa prévia. Na medida em que você amplia o apoio do colégio eleitoral, as lideranças perdem o controle". O deputado federal Eduardo Cunha (RJ), um de seus operadores, conta que Garotinho tem crescido em Estados onde a rejeição a seu nome era grande, no Nordeste. "Ele fala com cada eleitor e aproveita as viagens para dar entrevistas para os jornais locais", diz Cunha. Em um dos Estados nordestinos que visitou, ouviu de um interlocutor que o apoio a seu nome em 2006 era impossível, já que a hierarquia pemedebista deveria se comprometer com o PSDB. Ao que Garotinho retrucou: "Não tem importância. Estou aqui para pedir o apoio de vocês para ganhar as prévias. A eleição é outra história", afirmou. O encontro terminou com as lideranças locais sem apoiarem Garotinho, mas admitindo que o ex-governador é um profissional da negociação. O ex-governador já admitiu que a decisão da Executiva de escolher um só local por Estado para realização das votações nas prévias "poderia ser um complicador". No mês que vem, Garotinho vai se licenciar da Secretaria de Coordenação e Governo do Estado do Rio para se dedicar mais à campanha. No programa estadual do partido que vai ao ar hoje, ele dará ênfase à política de geração de empregos e de atração de novos investimentos para o Rio. Também ficarão a cargo dele os ataques à política econômica. Além de Garotinho, o programa também contará com declarações da governadora do Rio, Rosinha Matheus, e do senador Sérgio Cabral Filho. Inicialmente estavam previstos depoimentos de caciques do partido, como o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia e Rigotto, gravados durante reunião do PMDB, no Rio, no mês passado. Na edição, só foram mantidos os depoimentos de Rosinha e Cabral. Oficialmente, por falta de espaço.