Título: Construtoras têm cenário otimista para 2006
Autor: Paulo Henrique de Sousa
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2005, Empresas &, p. B1

Construção Civil Neste ano, o setor deverá crescer em torno de 4%

O desempenho da construção civil ficará abaixo do estimado pelas empreiteiras no começo do ano, mas as perspectivas daqui para frente são positivas. O PIB do setor deverá crescer em torno de 4% neste ano, caso sejam mantidas as projeções das entidades que representam as empresas, o que estará muito próximo do desempenho geral da economia brasileira. Apesar das queixas, os empresários concordam que as perspectivas para 2006 são muito boas. Na avaliação do presidente do Sindicato da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP), João Claudio Robusti, até o segmento de obras públicas deverá melhorar no ano que vem. Prefeituras, estados e o governo federal, empenhados na disputa eleitoral do ano que vem, estariam mais propensos a abrir os cofres. Mas o diretor superintendente de Finanças e Planejamento da Construções e Comércio Camargo Corrêa, Mauro Costa, avalia que o impulso nas obras de infra-estrutura vai depender diretamente do sucesso do leilão de energia nova, previsto para o dia 16 de dezembro. Havendo investidores interessados, pelo menos cinco usinas hidrelétricas seriam construídas, já que elas dispõem de licenças ambientais. O vice-presidente-executivo da Abdib (Associação Brasileira da Indústria de Base), Ralph Lima Terra, nota que, com exceção da área de petróleo, os investimentos em infra-estrutura estão praticamente parados. "Não temos um projeto novo em energia há dois anos. Em saneamento, nem sequer temos um marco regulatório." Além disso, está atrasada a concessão à iniciativa privada de oito lotes de rodovias federais. Enquanto isso, grandes projetos privados devem se materializar. Um exemplo é a Feira Brasil, um projeto de R$ 200 milhões. Depois de cinco anos de negociações, vai sair do papel em 2006 e transformar-se no maior espaço para feiras e exposições do país. Segundo os organizadores, será o maior da América Latina. A incorporadora americana Hines deu uma grande mostra de que o mercado imobiliário brasileiro é também promissor aos olhos dos investidores estrangeiros. Associou-se ao maior fundo de previdência dos Estados Unidos, o CalPERS, para formar o HCB Interests LP, um fundo de US$ 200 milhões para o Brasil. O otimismo chega ao varejo de material de construção. O presidente da Anamaco (associação dos varejistas), Cláudio Conz, estima que os subsídios do governo, via Caixa Econômica Federal, destinado à classe baixa para a compra de material de construção pode ser responsável pelo crescimento de 4% do setor, em 2006. O que se convencionou chamar de "construbusiness" é muito heterogêneo: abrange desde as pequenas reformas e construções administradas diretamente pelos proprietários - que representam 63% do mercado - até os grandes projetos de infra-estrutura, cada vez mais escassos. Essa cadeia representa quase 14% do Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto as obras de infra-estrutura andam em marcha lenta, as demais têm acelerado. Segmentos como o imobiliário e o de obras para indústria retomaram o ritmo no segundo semestre. Segundo Robusti, são os dois mais dinâmicos da indústria da construção. Grandes construtoras e incorporadoras que vendem casas e apartamentos para as classes média e alta não têm do que reclamar. Nesse mercado de luxo não há crise e as margens de lucro são maiores. Incorporadoras como Gafisa e Klabin Segall estimam crescimento de dois dígitos neste ano. Além disso, a classe média-baixa está, aos poucos, voltando a fazer parte do jogo. Robusti lembra que a CEF começou a acelerar a liberação de financiamento de imóveis a partir de agosto. Mas mesmo assim, até meados de outubro, só havia liberado R$ 3,7 bilhões dos R$ 6,7 bilhões disponíveis para o ano. Para 2006, o orçamento do FGTS para infra-estrutura será de R$ 10 bilhões, praticamente repetindo o deste ano, dos quais R$ 5,85 bilhões são destinados para habitação. As obras destinadas ao setor privado também estão bem. Segundo o presidente do Sinduscon-SP, as empresas estiveram reticentes em fazer novos investimentos no início da crise política, mas agora retomaram os projetos porque avaliam não haver conseqüências traumáticas que possam abalar a economia. Assim, surgiram novos shoppings centers, grandes supermercados, centros de distribuição, fábricas e, no litoral nordestino, hotéis e resorts . As grandes construtoras também se voltaram para as obras industriais. A Camargo Corrêa, por exemplo, está construindo a fábrica de pneus da Continental, na Bahia - uma obra de R$ 220 milhões. No portfólio deste ano também estão obras para as Casas Bahia, a companhia de Laticínios Itambé e o edifício garagem do aeroporto de Congonhas.