Título: Rolagem concentra renda, diz economista
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2005, Empresas &, p. B10

Guilherme Leite da Silva Dias, professor titular do Departamento de Economia da FEA/USP, vê com extrema preocupação a manutenção da inadimplência nos pagamentos das dívidas rurais no país em elevado patamar. Segundo ele, que esteve no Ministério da Agricultura no governo de Fernando Henrique Cardoso e como secretário de Política Agrícola costurou a ampla renegociação de meados dos anos 90, pelos dados disponíveis a inadimplência deve seguir concentrada em cerca de 30 mil pessoas físicas e jurídicas (sobretudo médios e grandes produtores rurais) e uma nova rolagem com a envergadura daquela que foi feita há uma década apenas funcionaria como um mecanismo renovador da concentração de renda na agricultura nacional. "Mecanismos como esse anulam eventuais conquistas obtidas com reforma agrária", opinou em recente entrevista ao Valor. Dias concorda que houve fatores neste ano que tiraram renda dos produtores de grãos, e entende a pressão por uma ampla renegociação que motivou diversas manifestações no país nos últimos meses. Mas também lembra que em 2002 e 2003, anos de bons resultados para os mesmos produtores, a inadimplência permaneceu em nível elevado. Para o economista, o não pagamento das dívidas é um "problema de fundo extremamente grave" que fere a credibilidade dos contratos assinados e ameaça sobremaneira o crédito rural, já que os recursos disponibilizados em uma determinada safra em parte depende do fluxo de pagamentos dos créditos tomados na safra anterior. "Sendo assim, o que resta de espaço para a construção de um mercado de crédito rural no país?", pergunta. Por tudo isso, Guilherme Dias alerta que é preciso transparência em todo e qualquer processo de renegociação. (FL)