Título: Montadoras vão investir US$ 11,2 bilhões até 2012
Autor: Ferraz, Renato
Fonte: Correio Braziliense, 01/05/2010, Economia, p. 20

negócios

Bellini assume a Anfavea e pede ¿choque de competitividade¿ e diálogo com o governo para crescimento

O novo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Bellini, anunciou que a indústria automotiva brasileira vai investir US$ 11,2 bilhões até 2012. Esse dinheiro será usado no desenvolvimento de novos produtos, em tecnologia, em processos e na ampliação do parque industrial. No período 2007 a 2009, o total investido não passou dos US$ 8 bilhões.

Bellini, que tomou posse ontem, na capital paulista, também pregou um choque de competitividade para que o segmento possa crescer. ¿É necessária a criação de um programa nacional, envolvendo o governo e todos os atores envolvidos, como o setor de autopeças, que resulte na aceleração da inovação¿, pregou. ¿Tem que ser um choque sistêmico, que vai desde a matéria-prima até o capital humano.¿

Ele afirmou que vai procurar o governo o quanto antes para um diagnóstico das deficiências do sistema. Como exemplo de falta de competitividade, Bellini citou a falta de estrutura portuária. ¿Hoje, as cegonheiras (caminhões) vão ao Norte e ao Nordeste carregadas e voltam vazias. Isso é desperdício de tempo e dinheiro¿. Ele também criticou os preços dos insumos, principalmente do aço. ¿As nossas montanhas saem do Brasil, rodam o mundo e o aço produzido lá fora é mais barato do que o nosso¿, avaliou.

Bellini , que também é presidente da Fiat na América Latina, abordou ainda as expectativas de crescimento para este ano. Ele estima que o setor produzirá 3,4 milhões de unidades, um aumento de 8,2% em relação a 2009, ano marcado pela crise global. O novo dirigente alertou, porém, que a capacidade instalada de produção hoje no país é de 4,3 milhões de carro/ano.

Qualidade Sobre a grande quantidade de recalls (convocação global de carros para consertos), o novo presidente mostrou-se despreocupado. ¿Vivemos um momento de acúmulo, sem uma razão específica.¿ Ele também não crê que o aumento da produção tenha provocado um relaxamento no controle de qualidade. Mas provocou as montadoras. ¿É preciso muita transparência nesses casos. Cada empresa sabe o quanto custa construir uma marca.¿

A relação dos consumidores com algumas montadoras anda tão tensa que, em Minas Gerais, um juiz chegou a proibir a venda do sedã Corolla, da Toyota, porque o tapete do carro enganchava no pedal do acelerador, provocando acidentes. A Toyota foi obrigado pelo Ministério da Justiça a reconhecer a falha e a convocar os donos do modelo.

Em relação ao preço dos automóveis, comprovadamente altos em relação aos praticados na Europa e nos Estados Unidos, Bellini culpou dois fatos: a alta concentração de impostos e a baixa escala de produção (apesar de o Brasil ser o sexto maior produtor do mundo). ¿Nos Estados Unidos, temos 1 carro para cada 1,2 habitantes; aqui, 1 automóvel para 7 habitantes¿, lembrou.

Números do setor 25 montadoras 50 fábricas 500 empresas de autopeças 4.269 concessionárias US$ 86,5 bilhões de faturamento (dados de 2008)

O repórter viajou a convite da Anfavea

Ghosn prossegue na Renault

O brasileiro Carlos Ghosn será presidente da Renault por mais quatro anos. A decisão foi divulgada ontem, após assembleia dos acionistas. Ghosn, que é títular do cargo desde o ano passado, é também diretor da Nissan, principal sócia da empresa francesa.

Ao saber da renovação, Ghosn defendeu a aliança(1) das duas fabricantes com a alemã Daimler. ¿Com a Daimler, entramos num seleto clube de grupos que produzem mais de 7 milhões de automóveis por ano¿, destacou. E reiterou que a Renault voltará a apresentar lucros líquidos, no mais tardar, em 2011.

O brasileiro, que chegou à gigante francesa com o prestígio de ter reerguido a Nissan e com uma imagem de ¿cost killer¿ (redutor de custos), deverá agora fazer frente ao desaparecimento progressivo das ajudas públicas estatais ao setor na Europa, seu principal mercado. O plano de troca de carros velhos manteve as vendas durante o primeiro trimestre. A cifra de negócios aumentou quase 28,4%. Mas este efeito poderá terminar no segundo trimestre, e a Renault se mostra prudente em relação ao restante do ano.

Na terça-feira, a montadora reiterou que espera ¿condições ainda difíceis em 2010 e um mercado europeu que poderá sofrer uma queda de 10%¿ em relação a 2009. A Renault faz parte dos grupos automotivos mais duramente afetados pela crise, com uma perda líquida de 3,1 bilhões de euros em 2009, devido, em grande parte, à participação em empresas associadas com a japonesa Nissan ou com a sueca Volvo. O resultado é que, pelo segundo ano consecutivo, a montadora não deverá repassar dividendos a seus acionistas. Quanto ao valor da ação Renault, apesar de quase duplicar no ano passado, foi dividida por mais de cinco em 2008.

1 - Parceria estratégica A aproximação entre a Renault e a Daimler poderá resultar em uma plataforma comum para os veículos pequenos das duas montadoras (Twingo e Smart). A aliança pode render ainda uma cooperação na área de veículos elétricos, considerada essencial pela empresa francesa.

Vale entra na Guiné

A Vale anunciou ontem que adquiriu por US$ 2,5 bilhões participação de 51% na BSG Resources Guiné, que detém concessões de minério de ferro no país africano. Do montante, US$ 500 milhões serão pagos à vista e o restante, em ¿etapas sujeitas ao cumprimento de metas específicas¿, informou a companhia em comunicado.

A produção será iniciada em 2012 com 10 milhões de toneladas de minério de ferro e deve atingir 50 milhões de toneladas entre 2014 e 2015. A joint venture formada pelas duas empresas vai implementar o projeto Zogota e conduzirá estudos de viabilidade, com a criação de um corredor logístico para escoamento através da Libéria. Para viabilizar esse plano, as empresas terão que modernizar 660 quilômetros da ferrovia Trans-Guiné, que faz transporte de passageiros e cargas leves.

¿A Vale será responsável pela gestão dos ativos, marketing e vendas da joint venture com a exclusividade do off-take do minério de ferro produzido¿, informou a empresa. Os ativos adquiridos ¿estão entre os melhores depósitos de minério de ferro ainda não explorados no mundo, com alta qualidade e potencial para o desenvolvimento de projeto de larga escala e longa duração, com baixo custo operacional e de investimento¿, diz a nota. A empresa prevê gerar 5 mil empregos diretos e o projeto inclui treinamento e desenvolvimento de empregados locais, informou a companhia.