Título: CPI do Mensalão discute prorrogação
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2005, Política, p. A7

Crise Pré-acordo daria mais 30 dias de prazo para as investigações

Com prazo dos trabalhos a expirar amanhã, os integrantes da CPI do Mensalão reúnem-se na manhã de hoje para tentar acertar a prorrogação do tempo de vigência da comissão. Já há um pré-acordo firmado entre oposição e governo, com o presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), para prorrogar as investigações por mais 30 dias. O debate será travado em uma semana cheia de depoimentos nas outras duas comissões de inquérito (Correios e Bingos). "Não haverá problema no debate amanhã. Devemos fechar o acordo para prorrogação por mais 30 dias", diz o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS). Lando informou já ter reunido as 27 assinaturas necessárias no Senado para manter o funcionamento da comissão. Mesmo com a decisão de seu presidente, a CPI do Mensalão deve terminar sem uma grande conclusão. Criada para investigar deputados recebedores de mesada dos governos atual e anterior, a comissão pouco avançou. Viu a CPI dos Correios se adiantar e indiciar os parlamentares sacadores de dinheiro do esquema do empresário Marcos Valério de Souza e não conseguiu investigar a compra de votos durante a administração de Fernando Henrique Cardoso. "Como os convocados para falar da compra de votos da reeleição deram um atestado de boa conduta ao governo anterior, essa função da CPI perdeu o sentido", ironiza Redecker. Ainda sem ter a certeza da prorrogação da CPI, o relator Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) poderá levar um relatório final já para a sessão de hoje. Se não houver acordo, apresentará o texto, feito às pressas. Na segunda-feira, procurado para falar do término do prazo dos trabalhos, o deputado mostrou-se surpreso com a iminência do fim das investigações. Com o esvaziamento da CPI do Mensalão, as outras duas comissões deverão monopolizar as atenções nessa semana. Depois de complicar a vida do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a CPI dos Bingos deverá mirar agora no presidente Lula. Está convocado a depor nessa quarta-feira o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. Ele foi tesoureiro do PT e teria pago uma dívida pessoal de Lula com o partido, no valor de R$ 29,4 mil, em 2004. A CPI deverá também votar hoje requerimento de convocação de Genival Inácio Lula da Silva, o Vavá, irmão do presidente. Ele é acusado de intermediar contatos de empresários com estatais. O pedido foi apresentado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), colocará o requerimento em votação antes do depoimento de Okamotto. Os parlamentares da CPI vão acertar hoje, ainda, a data da convocação de Ademirson Ariovaldo da Silva, ex-assessor particular de Palocci, apontado como um dos envolvidos nos esquemas de pagamentos de propinas quando da administração do ministro na Prefeitura de Ribeirão Preto. Já a CPI dos Correios terá como principal depoimento da semana o da ex-presidente da Brasil Telecom, Carla Cico, a ser ouvida hoje. Ela explicará contratos publicitários feitos com as agências SMP&B e DNA, de Marcos Valério, e a disputa societária dos fundos de pensão com o Opportunity pelo controle da empresa.