Título: Audiência hoje na CAE sela futuro de ministro
Autor: Cristiano Romero, Claudia Safatle e Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2005, Política, p. A8

Numa rápida ofensiva articulada pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o governo conseguiu antecipar para hoje, às 15h, a presença do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa com intuito de esclarecer as denúncias recentes que o envolvem direta ou indiretamente. Palocci já estava na segunda-feira à noite em Brasília para discutir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seu futuro. O presidente disse ao ministro que não aceita a saída dele do governo. Os governistas e o próprio ministro decidiram aguardar o resultado da audiência na CAE para selar a permanência dele na Fazenda. "Será um dia decisivo. Tudo dependerá do desempenho dele na CAE. O ministro sente que precisa responder a tudo", informou um interlocutor do presidente Lula. A oposição não colocou obstáculos à antecipação da audiência na CAE, mas mantém a tese de que a convocação do ministro numa CPI não está descartada. "Mesmo indo ao Senado e à Câmara, dificilmente o ministro deixará de depor numa CPI. É indispensável que isso ocorra, sem qualquer prejulgamento da oposição", afirmou o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). "Me parece inconveniente e inapropriado, mas se o ministro quer ir logo à CAE, não encontrará plenário vazio. Como ninguém se preparou, pode se impor a necessidade de convocação na CPI num segundo momento", argumentou o líder do PFL, José Agripino Maia (RN). A oposição já trabalha com a manutenção de Palocci no ministério. "Se não houver novas denúncias, talvez ele consiga ficar. Mas fica manco, o que para nós é bom, porque enfraquece o governo", definiu um deputado oposicionista. A audiência extraordinária da CAE foi combinada com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da comissão, senador Luiz Otávio (PMDB-PA). Mercadante também consultou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), e passou o dia tentando se comunicar com os líderes do PFL e PSDB. "Não queremos postergar mais isso, porque esse cenário não pode prejudicar a economia", avaliou Mercadante. De São Paulo, Mercadante vinha conversando com Palocci desde o início da semana. "O ministro acha que deve esclarecer a toda a opinião pública", informou o senador. Para Mercadante, os líderes da base na Câmara terão que negociar a ida de Palocci às comissões de Educação e de Finanças e Tributação para esclarecer temas específicos. O ministro foi convocado a comparecer hoje à Comissão de Educação e no dia 22 à Comissão de Finanças. Se a estratégia de Palocci na CAE der certo e com isso for possível amenizar a crise política, ao longo da semana o governo terá que administrar outra tarefa difícil: a ira da Câmara. "Não tem sentido o ministro Palocci ir ao Senado e ter medo de ir à Câmara. Ele foi convocado. Não tem como cancelar, alterar. Já fui compreensivo demais", disse o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), presidente da Comissão de Finanças e Tributação. Palocci já havia feito quatro pedidos de adiamento. Geddel aguarda uma manifestação oficial do governo e ameaça pedir a punição do ministro por crime de responsabilidade, caso ignore a convocação.