Título: Com receio, Lula prepara defesa pública da permanência de Palocci
Autor: Cristiano Romero, Claudia Safatle e Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2005, Política, p. A8

Preocupado com a repercussão negativa da possível saída do ministro Antonio Palocci da Fazenda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu brigar para mantê-lo no cargo. Lula, segundo fontes ouvidas pelo Valor, teria se convencido de que, com Palocci fora do governo, seria muito difícil manter a atual política econômica. Nos próximos dias, o presidente vai defender publicamente Palocci e a política econômica. Se isso acontecer, será uma reviravolta na crise envolvendo a manutenção do ministro no governo. Até ontem, a situação de Palocci permanecia frágil. Um assessor do governo informou que o ministro está "só" e que seu objetivo, agora, é se preparar para depor hoje no Senado. "O plano é que ele tenha uma boa presença nesse depoimento para preservar sua carreira e seu futuro políticos", contou um amigo do ministro. Palocci antecipou seu retorno a Brasília para a noite de segunda-feira - ele só voltaria nesta quarta-feira, depois de quatro dias de descanso em Ribeirão Preto (SP). Na segunda-feira, conversou com o presidente Lula. Ontem, em sua residência, na capital federal, Palocci reuniu-se com dois assessores - Murilo Portugal, secretário-executivo da Fazenda, e Marcelo Netto, assessor de imprensa. Ele se encontrou também, a pedido de Lula, com o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) e com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Na pauta, além da antecipação de seu depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a negociação da MP 258, que cria a Super Receita. Lula reconheceu, em conversa com assessores, que perdeu o "timing" para a defesa de Palocci. Na semana passada, o presidente silenciou diante das fortes críticas da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à condução da economia. "O presidente não quer que ele (Palocci) saia e vai falar publicamente isso nos próximos dias. E o próprio Palocci, mesmo desanimado e preocupado, não está falando mais em sair", sustentou ontem uma fonte ouvida pelo Valor. Ao repensar a situação de Palocci, que manifestou semana passada o interesse de deixar o governo, Lula teria chegado à conclusão, segundo um colaborador do presidente, que não há alternativa ao ministro da Fazenda. Há um enorme receio, entre os economistas do governo, que a saída de Palocci represente uma mudança na política econômica, principalmente no seu fundamento fiscal, colocando a perder todo o esforço dos últimos anos para controlar a inflação. "Se Palocci sair, não há como segurar a política econômica. A onda contra é muito forte", contou um ministro, acrescentando que a única ressalva do presidente, neste momento, é quanto à baixa execução do Orçamento aprovado pelo próprio governo. A "blindagem", que manteve a economia à margem dos prejuízos da crise política, deve-se à credibilidade obtida pelo ministro da Fazenda junto aos mercados e a confiança que o presidente Lula tem nele. Mudar isso pode representar uma abrupta deterioração das expectativas com efeitos no superávit primário, no câmbio e na inflação. A aposta dos principais assessores de Palocci, agora, é de que ele permanecerá no cargo. Aguardava-se um pronunciamento do presidente Lula de apoio ao ministro da Fazenda, capaz de fazê-lo mudar de idéia. Mas outra questão que se coloca é como permanecer e sob que condições. Os ataques a Palocci vêm do próprio PT e não apenas da oposição, que resolveu, diante do elenco de denúncias de corrupção durante sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto, retirar-lhe o apoio incondicional. E se originam exatamente dos petistas que tentam, agora, amalgamar o partido para a campanha da reeleição de Lula. "A política econômica não vai mudar. E o Palocci fica", cravou um petista freqüente interlocutor do presidente. Pessoas próximas à ministra Dilma Rousseff afirmam que houve uma supervalorização de sua fala na semana passada. Segundo assessores palacianos, a defesa de mais verbas para investimentos tem sido uma tecla batida pela ministra desde que assumiu o cargo no lugar de José Dirceu, em junho. "Uma hora, a ponte cai. Este país está travado, veja as estradas, as ferrovias. Uma hora, pára tudo", criticou um assessor do Planalto. Interlocutores da ministra tentaram minimizar o mal-estar da semana passada. Afirmam que o único recado dela foi: "Cumpra-se a lei", numa defesa da manutenção do superávit primário em 4,25%. "Ela não quer diminuir esse percentual. Mas também querer aumentar o arrocho para 6% é demais", justificou o assessor. Como parte da estratégia de defesa de Palocci, na sexta-feira Lula dará entrevista a 10 emissoras de rádios regionais, de nove Estados do país. Estão previstas também outras entrevistas a emissoras de rádio. A defesa também poderá ser feita, hoje, durante a abertura da 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília. (Colaborou Arnaldo Galvão)