Título: Tasso assume PSDB para o 'terceiro turno' das eleições
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2005, Política, p. A10

Partidos Tucanos reforçam discurso da unidade na escolha do candidato

Num cenário em que a crise do governo Lula aponta para a realização de um "terceiro turno" em 2006 com os mesmos protagonistas de 2002, os tucanos elegem nesta sexta-feira o senador Tasso Jereissati para presidir o PSDB, em clima de entendimento que pode se deteriorar à medida que se aproximar o fim do prazo para a escolha do candidato do partido. É o marco zero de uma marcha que tem como objetivo cercar e retomar do PT o Palácio do Planalto. Ao contrário do que ocorreu em 2002 quando o atual prefeito de São Paulo, José Serra, foi indicado para a disputa com Luiz Inácio Lula da Silva, o PSDB chega à convenção para eleger Tasso num clima de aparente entendimento, reforçando o discurso da unidade partidária. Há até um acordo tácito sobre o critério para a escolha do candidato a tirar Lula e o PT do Palácio em 2006. Antes da crise em que se envolveu o governo, o "candidato natural" do PSDB era o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Nos cálculos políticos de Serra, uma nova disputa com Lula era algo distante. O escândalo do mensalão, no entanto, deu a Serra uma nova condição, consolidada pelo fato de as pesquisas indicarem que, no momento, é o único candidato em situação de bater o PT em eventual segundo turno. A recolocação de Serra no mercado sucessório chegou a ameaçar a reconstrução tucana. As intrigas que minaram a candidatura do PSDB em 2002 voltaram a assombrar os bastidores, como nas queixas dos partidários do governador contra o estilo "trator" do prefeito. Aliados de Serra também arquitetaram a prorrogação do mandato do presidente do PSDB, Eduardo Azeredo (MG), manobra que foi por água abaixo com a descoberta do envolvimento do ex-governador mineiro com o mesmo esquema que patrocinou o mensalão. O discurso da unidade foi retomado após uma série de reuniões, almoços e jantares entre Fernando Henrique Cardoso, Alckmin, Serra, Tasso e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e outros dirigentes partidários, geralmente em São Paulo. Escaldado, Serra procurou deixar claro que não tinha objeções ao nome de Tasso - visto no partido como um aliado da candidatura Alckmin - para a presidência do PSDB. O prefeito e o governador também trataram de estabelecer um modo de convivência. Em princípio, os tucanos acertaram que o candidato, entre os dois, será aquele que estiver em melhores condições de bater Lula. O critério é a pesquisa, mas não só a posição do candidato no início do próximo ano. Potencial de crescimento e rejeição também contarão pontos. Sendo Serra o indicado, Alckmin ficaria no governo até o fim do mandato, ajudaria na eleição para a presidência e para o governo estadual e, com o prefeito no Planalto, ganharia um ministério de primeira classe na Esplanada. A equação é parecida para a hipótese de Alckmin vir a ser o candidato tucano. Neste caso, Serra permaneceria na prefeitura até o final do mandato, quando então decidiria sobre a disputa da reeleição. Mas já há uma discussão em curso no PSDB: em caso de vitória de Alckmin, ele deveria ser nomeado para o Ministério da Fazenda. Serra, segundo seus partidários, não seria só um ministro com preparo técnico para um monocórdico ajuste fiscal, mas alguém com conhecimento para discutir outras políticas públicas a partir da Fazenda. Seja qual for o candidato, uma coisa é certa: o vice da chapa será do PFL. Apesar do namoro dos pefelistas com o PMDB, os tucanos dão como definitiva a reedição da aliança que elegeu (1994) e reelegeu FHC (1998). Falta definir o nome para o governo de São Paulo, disputa com potencial para minar a unidade tucana. Por sua posição atual nas pesquisas, Serra leva ligeira vantagem na disputa. Mas a administração de Alckmin é bem avaliada e o governador pode ser apresentado em 2006 como algo novo. Serra, ao contrário, encarnaria o "terceiro turno" da eleição de 2006, o que, para os partidários de sua candidatura, não é algo necessariamente negativo, pois situaria o prefeito como o contraponto ideal a Lula. Trata-se efetivamente de uma disputa em aberto, bem definida por um tucano de alta plumagem: "Um (Serra) é obstinado. O outro (Alckmin) está determinado". Basta acompanhar a performance de um e outro nessa reta final. Serra está focado numa política de popularização, substituindo escolas de lata por escolas de alvenaria, procurando reduzir o tempo de trânsito em São Paulo ou reformando 200 postos de saúde e hospitais municipais. Alckmin procura se mostrar um gestor eficiente e empreendedor. O pacote da eleição está nas ruas desde maio passado, quando incluiu no orçamento de investimentos de São Paulo R$ 12 bilhões para 47 projetos até dezembro de 2006.