Título: Isolado, governo Chávez se volta para o Mercosul
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2005, Internacional, p. A11

Venezuela País abre crise com o México e critica acordo andino com os EUA

A crise com o México e a possibilidade de um acordo de livre comércio entre os países andinos e os EUA apontam para um isolamento da Venezuela na região e explicam a recente aproximação do país com o Mercosul. O isolamento do presidente Hugo Chávez é um dos objetivos da política externa dos EUA no continente americano. Anteontem, Venezuela e México retiraram seus respectivos embaixadores após a troca de farpas entre os presidentes dos dois países. Chávez disse que o presidente mexicano, Vicente Fox, seria um "filhote do imperialismo" e um entreguista em relação aos EUA. Disse ainda que Fox que não se meta com ele. Fox exigiu desculpas, mas elas não vieram. Por trás desse destempero verbal mais evidente, nos últimos dias as autoridades venezuelanas já vinham criticando o acordo de livre comércio que os EUA vêm negociando com três países andinos - Colômbia, Equador e Peru. O governo venezuelano sugeriu que o país pode deixar o bloco comercial do Pacto Andino caso esse acordo seja concluído. Chávez disse no domingo, durante seu programa de rádio e TV, que seu país "não tem mais nada a procurar na atual Comunidade Andina". "Qual é o nosso caminho? O Mercosul." O presidente é um crítico da iniciativa americana de formar uma área de livre comércio nas Américas, a Alca, e diz que um bloco continental ou mesmo uma iniciativa mais restrita, como a envolvendo os países andinos, significaria a total submissão aos interesses americanos. Para ele, a associação da Venezuela com Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai poderia ser o "eixo de liberação da América do Sul". A Venezuela é ainda um membro associado do bloco, mas o país vai se tornar membro pleno durante a cúpula do Mercosul em dezembro. Deixar o Pacto Andino seria uma forma de resolver o problema da adesão da Venezuela ao Mercosul. O país tem compromissos tarifários com os países do Pacto Andino que dificilmente podem ser harmonizados com as obrigações advindas da eventual associação plena ao bloco. Esta semana ocorre a última rodada de negociações entre os andinos e os EUA, em Washington, e é possível que o acordo seja assinado em dezembro, apesar de persistirem divergências importantes entre as partes, especialmente no que diz respeito a produtos agrícolas e a questões de propriedade intelectual. A adesão da Venezuela é vista com bons olhos pela maioria dos membros do Mercosul. A Argentina, por sua vez, é o país que mais vê potencial de benefício econômico. Um exemplo dessa aproximação se dá com a PDVSA, estatal venezuelana de petróleo, que comprou rede de postos de gasolina na Argentina. Muita gente no governo do presidente argentino, Néstor Kirchner, gosta de Chávez, sendo que o próprio Kirchner é um crítico da Alca. O Brasil vem aumentando suas exportações para a Venezuela e tem interesses na exploração de gás e petróleo no país.