Título: Ambiente interno pode compensar perdas com exportações em 2006
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2005, Empresas &, p. B9

Veículos Setor automotivo trabalha com índices favoráveis ao aumento da demanda no país

As projeções macroeconômicas para 2006 indicam aos fabricantes de veículos e de autopeças a chance de compensar no mercado doméstico as inevitáveis perdas com a exportação. Essas empresas apostam em índices de PIB, inflação e juros que favorecem o endividamento do brasileiro na compra de automóveis e, como conseqüência, lhes permitirão manter o mesmo ritmo de produção deste ano, apesar da queda de vendas no exterior. Os números positivos que as áreas financeiras das montadoras projetam ganham ainda mais força à medida em que os presidentes dessas multinacionais apostam que um ano eleitoral e o aumento da confiança do consumidor vão ajudá-los a vender mais. As projeções de General Motors, Volkswagen, Fiat e Ford e de fornecedores como Bosch e Delphi indicam crescimento de PIB entre 3,5% e 4% e inflação sob controle, em torno de índices que variam de 4% e 5,3%. A General Motors é a menos otimista em relação à taxa de juros. Enquanto os concorrentes trabalham com médias por volta de 16,5%, a GM prevê que a Selic só chegará nessa faixa no final de 2006. Na média, a taxa será de 18%, segundo a montadora americana. O presidente da empresa, Ray Young, aponta a "postura conservadora do Banco Central" para justificar a previsão. Por outro lado, para Young a inflação pode ficar até mais baixa do que os 5,3% que a companhia usa para o plano de trabalho em 2006. As expectativas de perdas nas exportações por conta do câmbio desfavorável oscilam. A previsão mais pessimista é a da Volkswagen, justamente a montadora que mais exporta. A montadora alemã trabalha com a possibilidade de as vendas totais de veículos brasileiros ao exterior cair de 840 mil unidades, em 2005, para 550 mil. Já a Fiat trabalha com uma margem maior, de 500 mil a 700 mil. A GM calcula uma retração de 5% nas vendas externas totais de veículos, apesar de calcular queda de 20% a 30% nas suas próprias exportações. A cotação média do dólar em 2006 não passará de R$ 2,60 para essas empresas. Algumas apostam em médias de R$ 2,40 a R$ 2,50. O presidente da Volkswagen do Brasil, Hans-Christian Maergner, cuja aposta é de que a moeda americana vai valorizar apenas 3% em relação aos números recentes, diz que as exportações "são o calcanhar-de-aquiles do setor". A Volks se prepara para tentar aumentar a participação no mercado brasileiro de 21,9% em 2005 para 23%, no próximo ano. Mas o volume de exportação da empresa deverá cair 12,6%. A Bosch prevê reduzir a fatia das exportações na receita de 47% deste ano para 43%. No entanto, a receita em 2005, de R$ 4 bilhões, 10% maior que a do ano anterior, deve ser a mesma em 2006. Segundo o presidente da empresa, Edgar Garbade, a filial brasileira já perdeu para a mexicana fornecimento de peças para os Estados Unidos. Garbade diz que há espaço para o mercado interno absorver, no próximo ano, pelo menos 100 mil veículos a mais em relação a 2005, que deverá fechar com a venda interna em torno de 1,6 milhão de unidades. Também o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), Paulo Butori, calcula que o mercado brasileiro poderá consumir pelo menos 100 mil dos veículos que deixarão de ser exportados em 2006. "No ano que vem haverá menos amarras", prevê. "Apesar de um ambiente econômico positivo, o mercado interno de carros hoje é 15% abaixo de 1997", diz Maergner, ao lembrar que, apesar da tendência de queda, a taxa de juros brasileira ainda é uma das mais altas do mundo. "Estamos no mesmo patamar , mas com um futuro mais brilhante", diz o presidente da Ford, Barry Engle. Para ele, vários fatores devem estimular a demanda interna: "a confiança do consumidor, melhor acesso a crédito, a procura pelos carros bicombustíveis e o ano eleitoral, sem contar a paixão do brasileiro por carros". O presidente da Citroën, Sérgio Habib, também aponta o ano eleitoral e a expectativa de queda nos juros para sustentar seu otimismo em relação ao próximo ano. O presidente do grupo Fiat, Cledorvino Belini, lembra, ainda, que a taxa do emprego está crescendo. Mas, segundo ele, o que preocupa, é que o mesmo não acontece com a distribuição de renda. As previsões da Fiat incluem projeções otimistas para toda a América Latina. A montadora trabalha com crescimento do PIB de 4,2% e de 4,5% na Argentina e Venezuela, respectivamente e de um avanço econômico de 3,8% em toda a América Latina. Belini calculou também o ritmo da produção de veículos no próximo ano. Segundo suas contas, a média diária de produção será 6.362 veículos no primeiro trimestre, 6.661 no segundo, 6,7 mil no terceiro e 6,9 mil nos três últimos meses de 2006. No último trimestre de 2005, as médias oscilaram entre 6,6 mil e 7 mil unidades. A maior parte das empresas do setor prevê que, mesmo com o aumento do mercado interno, a produção de veículos vai ficar estagnada, em torno de 2,450 milhões, por conta da retração da exportação. A exceção é a previsão da Delphi, que aposta num aumento para 2,6 milhões de veículos em 2006.