Título: Todas as atenções voltadas para Palocci
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2005, Finanças, p. C2

Não é o futuro do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que preocupa o mercado financeiro, mas sim o futuro da política econômica do governo Lula. Os dirigentes de bancos e os analistas do mercado vêem em Palocci um arauto do rigor fiscal e monetário. Sua saída é considerada um elemento de incerteza indesejado às vésperas de um ano eleitoral. Diretor de instituição financeira chegou a dizer que o ministro é o que há de melhor no governo Lula. Se Palocci deixar mesmo o ministério, causará provavelmente um estresse no mercado de câmbio e títulos da dívida, segundo a equipe do Barclays Capital. Na segunda-feira, essa tensão se iniciou, com alta de 2,12% no dólar, para R$ 2,21, queda na Bolsa, de 0,95%, alta nos juros projetados futuros e aumento de 1,73% no risco-Brasil. Se Palocci fosse substituído por Murilo Portugal, claramente comprometido com a política atual, as tensões seriam menores. Mas, alguns dos outros nomes citados como prováveis substitutos - Guido Mantega, Aloizio Mercadante e Ciro Gomes - causaram preocupação nos investidores, que não querem uma flexibilização da política fiscal em relação aos 5,2% do PIB de superávit primário obtido nos últimos 12 meses até setembro. Mario Mesquita, economista-chefe do ABN AMRO, diz que a probabilidade de uma mudança na política econômica voltou ao cenário e ele não tem certeza de que essa probabilidade, mesmo que pequena, esteja no valor dos ativos. "Palocci está para sair não por causa das denúncias", diz Miguel Daoud, sócio-diretor da Global Financial Adviser. "Ele está é isolado na defesa do superávit primário maior em meio a um governo que quer se reeleger e tem um ano para desenvolver políticas de maior impacto na renda e no emprego". Segundo Daoud, até a saída provável de Joaquim Levy do Tesouro poderia estar vinculada com a guinada na política econômica pretendida por Lula, com a qual Levy não estaria de acordo.

Juros caem nos EUA com depoimento de Bernanke

A equipe do Barclays Capital nota que o próprio Palocci é uma prova de como o mercado se engana e de que o desempenho de um ministro independe de suas credenciais como "amigo do mercado". "Por qualquer medida, a gestão de Palocci se provou de sucesso", diz. O ministro reduziu a relação entre a dívida total do setor público e o PIB de 55,5% para 51,4% e melhorou o perfil da dívida, avalia. "Isso aconteceu apesar da falta de background técnico e prático com o qual o mercado geralmente se sente confortável", comenta. Em contraste, a relação dívida/PIB cresceu muito durante a gestão do ministro anterior, Pedro Malan, "certamente o ministro das finanças melhor qualificado e mais amigo do mercado dos anos recentes", diz o relatório do Barclays. Até o temido Ciro Gomes, diz o banco, serviu um mandato "de sucesso" como ministro das finanças no início do Plano Real, em 94. A queda nos juros dos títulos do Tesouro americano pode ser um contraponto a acalmar o mercado brasileiro mesmo se Palocci sair. Ontem, os papéis de dez anos tiveram queda de 0,05 ponto percentual em seus juros, para 4,557% ao ano, com os depoimentos do futuro presidente do Fed (banco central dos EUA), Ben Bernanke, no Senado. Ele fez questão de frisar que vai colocar como sua prioridade primeira a continuidade da política de combate à inflação do atual presidente do Fed, Alan Greenspan. Disse que vai manter o Fed livre de influências políticas. Destacou que a política de metas explícitas de inflação traz mais transparência à atuação de um banco central, mas que pretende implantá-la aos poucos e somente quando todos os membros do Fed concordarem. "Garantir a estabilidade de preços de longo prazo é essencial para atingir o máximo emprego e uma estabilidade econômica geral", disse.