Título: Levy compara acusações ao caso 'Whitewater'
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2005, Política, p. A9

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, disse que " não tem data " para deixar o governo. Mas preferiu não responder se estaria comprometido a ficar até o fim do governo, se o ministro Antonio Palocci também continuar. " Não quero discutir hipóteses " , afirmou. O secretário confirmou ter recebido convite do BID num encontro em Washington na segunda. Levy disse ter falado por telefone com Palocci e que o ministro deporia no Congresso " porque nada tem a esconder " . Sobre as acusações contra Palocci, Levy comparou ao escândalo de Whitewater, no governo do ex-presidente americano Bill Clinton. " Acho que tem que ser feita uma ponderação na importância relativa das coisas " , e que o caso Whitewater não teve " nenhuma influência na política dos Estados Unidos e não chegou a lugar nenhum. (...) As acusações renderam um negócio interminável, Clinton saiu do governo e nada se descobriu " . Bill Clinton e sua mulher, Hillary, foram investigados pelo promotor especial Kenneth Starr junto com ex-sócios e amigos por investimentos imobiliários. Mas em seis anos de investigação, os dois não foram acusados por falta de provas, embora alguns dos ex-clientes da banca de advocacia de Hillary Clinton como advogada tenham sido condenados. Outro argumento de Levy é que escândalos de financiamento eleitoral existem em todo mundo. " Algumas obstinações têm que ser vistas com tranqüilidade. Para o Brasil esse é um processo de amadurecimento, mas isso não deve pôr em risco aquilo que a gente já alcançou " . Em palestra para investidores na Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia, Levy disse que o governo quer iniciar a discussão de criar limites às despesas correntes e desvincular receitas do orçamento. Levy citou o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de compromisso contra aumentos de carga tributária. " Temos que discutir isso agora, para que o próximo governo já chegue com isso resolvido " , disse. A melhor maneira de gerar recursos para investimento é a limitação das despesas correntes, seja em salários ou transferências, afirmou. Levy disse que houve uma percepção de antagonismo exacerbada nas declarações da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, porque o superávit fiscal não impede o investimento público. " Há coisas que não foram feitas não por falta de dinheiro, mas porque é complicado mesmo coordenar " . O secretário deu como exemplo a liberação de US$ 6 bilhões para gastos em estradas. Lembrou que o governo discutiu com o Fundo Monetário Internacional (FMI) o aumento de gastos em saneamento, e acabou investindo mais nos últimos dois anos que nos oito anteriores.