Título: Para Conceição, pressão é 'terrorismo político' contra o presidente
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2005, Política, p. A9

A economista Maria da Conceição Tavares saiu ontem do silêncio que vem procurando manter desde o início da crise do governo Lula para defender a manutenção do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no cargo. A seu ver, a recente pressão contra Palocci tem endereço certo. "É terrorismo político contra o presidente Lula. O ataque é político e não econômico", afirmou ao Valor. Mesmo continuando crítica da política macroeconômica comandada pelo ministro petista, Conceição defendeu sua manutenção no cargo no atual momento político. "Nesse momento, sou Palocci e não abro, porque não sou maluca. Entendo bem esta armadilha política da direita", declarou. O que a preocupa em eventual saída do ministro é a possibilidade de ele ser substituído por quadros mais conservadores como, por exemplo, Murilo Portugal. "Substituir o Palocci pelo Murilo faz alguma diferença. O Palocci é um homem do partido (PT) e goza da intimidade do presidente Lula, conversa com ele. Não é o caso de Portugal, que ninguém conhece (no governo)". O nome do ex-ministro Delfim Netto também foi criticado por Conceição. "Ele (Delfim) é a favor do déficit nominal zero, o que significa ser a favor do que está aí, do superávit de 6% que torna impossível o Orçamento público funcionar, do juro com arbitragem nos mercados financeiros e derivativos empoçando o dólar". Na avaliação da economista, o Brasil não precisa de déficit nominal zero para baixar os juros. "Estamos com um déficit nominal inferior ao de Maastrich (tratado que regula a moeda comum da União Européia), abaixo de 3% do PIB, estamos bem e o Delfim vem defender o déficit zero. E ainda dizem que ele virou progressista", diz. Conceição acha que a crise do governo Lula complica a substituição de Palocci. Alternativas mais progressistas estão em postos de relevância para a República, como a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil e do senador Aloizio Mercadante. Na sua opinião, a ministra não pode abandonar suas funções de tocar a infra-estrutura e Mercadante "não pode deixar o Senado às cobras, em plena crise". Fora do governo citou os nomes de Carlos Lessa (ex-presidente do BNDES) e do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, ligado ao PPS. O economista Paulo Nogueira Batista discorda de Conceição e considera que a saída de Palocci não tira seu sono. Ele não vê diferença entre Palocci e Portugal. "Do ponto de vista de condução macroeconômica a diferença é zero", mas admite que "pode fazer diferença do ponto de vista político em 2006", alfinetou. Para Nogueira Batista, paradoxalmente, o nome de Delfim Netto pode vir a assustar os mercados. O economista não acredita que nesse fim de governo haveria espaço para uma alternativa de política econômica mais progressista, mais heterodoxa, em substituição a tocada por Palocci. "Se Lula não a adotou em 2003, 2004, porque vai fazer no apagar das luzes? Não tem condição. Na melhor das hipóteses poderá corrigir alguns excessos monetários e fiscais da "ortodoxia troglodita" do Banco Central que entronizou uma política de juros exageradamente recessiva e criticada até por economistas conservadores. Para isto, nem precisa trocar o Palocci ". Antonio Lacerda, economista da PUC-SP concorda com Nogueira Batista. "Não creio em mudanças substanciais em 2006. Qualquer substituto do Palocci, caso venha a acontecer, que tente mudar o cerne dessa política - metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante - contaria com a oposição do próprio governo e dos mercados". Para ele, o nome da vez para essa transição sairia do próprio PT, no caso, o de Mercadante, por se identificar com o partido e ser um interlocutor dos mercados.