Título: Para ex-presidente da Brasil Telecom, Anatel e BNDES prejudicaram empresa
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2005, Política, p. A10

A ex-presidente da Brasil Telecom Carla Cico prestou depoimento à CPI dos Correios ontem e fez diversos ataques a autarquias do governo, aos fundos de pensão e à Telecom Itália. A executiva, ligada ao grupo Opportunity do empresário Daniel Dantas, acusou o BNDES de preterir a empresa de telefonia na aprovação de empréstimos e acusou a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) de prejudicar a companhia ao tratá-la politicamente. Carla foi evasiva ao responder perguntas sobre os contratos firmados entre a Brasil Telecom e as agência de publicidade de Marcos Valério de Souza, DNA Propaganda e SMP & B. Acusou os fundos Previ, Petrus e Funcef de participarem da estratégia da Telecom Itália de comprar a Companhia Riograndense de Telefonia (CRT) com preço acima do valor de mercado, em 1996. Segundo a executiva, o valor a ser pago pela empresa teria de variar entre US$ 550 milhões e US$ 730 milhões. Porém, ainda de acordo com a executiva, em acerto realizado fora do país, a Telefônica (que vendia a CRT) e Telecom Itália firmaram US$ 800 milhões como o montante a ser desembolsado. Questionada pelo deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), Carla Cico disse que o Opportunity não tinha conhecimento do acordo. O grupo era um dos sócios da Brasil Telecom ao lado dos fundos de pensão, da Telecom Itália e do Citigroup. ACM Neto organizou um raciocínio sobre a negociação e pediu a opinião da empresária. " A participação dos fundos na Brasil Telecom foi prejudicial. Se a Telecom Itália não informou ao Opportunity do preço fixado, ela deve ter tido o respaldo dos fundos. Posso dizer que os fundos foram os responsáveis pelo prejuízo de, no mínimo, US$ 70 milhões na compra da CRT? " , perguntou o deputado, que tem proximidade com Daniel Dantas. Carla Cico respondeu prontamente: " Pode " . E completou: " Os fundos e a Telecom Italia sempre dificultaram a expansão da Brasil Telecom " . Na resposta a esse questionamento sobre os fundos, Carla apresentou a única contradição em relação ao depoimento de Dantas, prestado em setembro. Ela disse não ter " a percepção " de que há pressão do governo sobre os fundos. O banqueiro havia afirmado que há " constante interferência " política do Palácio do Planalto. Por meio de assessoria de imprensa, os fundos informaram que os valores definidos para a compra da CRT foram aprovados pelo Conselho Administrativo da Brasil Telecom, onde o Opportunity tinha maioria dos votos. Depois de criticar os fundos, Carla Cico centrou o foco no governo federal. Ela reclamou da Anatel. " Até a administração do Renato Guerreiro à frente da agência, apesar de eu não concordar com algumas decisões dele, a Anatel era independente. A partir da saída dele, a Anatel passou a ser, digamos, menos técnica em suas deliberações " , disse a executiva. Criticou também o BNDES: " A demora do banco em nos conceder o empréstimo causou muita estranheza dentro da Brasil Telecom " . A demora foi de mais de 700 dias para a liberação da verba. " E o curioso é que no rating do próprio BNDES, a Brasil Telecom só fica atrás da Petrobras no ranking das empresas mais confiáveis. Há bancos que oferecem empréstimos à Brasil Telecom " , afirmou. A executiva reconheceu a contratação da empresa de espionagem Kroll para conseguir informações sobre a Telecom Italia. " Por conta desse movimento da Telecom Italia para prejudicar a Brasil Telecom, estudávamos a possibilidade de acionar a empresa na Justiça nos Estados Unidos ou na Itália. Por isso, contratamos a Kroll, prática comum nos Estados Unidos " , justificou a executiva. " Não determinamos e não pedimos nenhuma investigação sobre político algum " , esclareceu, ao negar que Dantas tivesse encomendado a coleta de informações do secretário de Comunicação do governo federal, Luiz Gushiken (PT).