Título: Para Nobel de economia, Brasil deve estimular competição entre Estados
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2004, Brasil, p. A6

O Brasil deveria estimular a competição entre os Estados para que adquirissem maior autonomia econômica e, conseqüentemente, fossem mais prósperos. Quanto mais rapidamente o país fizer isso, mais rico poderá tornar-se, a ponto de despertar inveja na vizinha Argentina, que sonharia em ser um destes entes federativos. A opinião não é de algum participante ressentido do Mercosul, mas do americano Edward Prescott, prêmio Nobel de economia em 2004. Ao lado do norueguês Finn Kydland, ele foi escolhido pela academia este ano por seus trabalhos na "unificação" da economia e por suas contribuições na compreensão da dinâmica da macroeconomia, que ajudam a explicar como políticas econômicas corretas no curto prazo podem não ser benéficas num prazo mais longo. Suas idéias serviram de inspiração nas reformas de bancos centrais de diversos países do mundo durante a última década. Numa entrevista concedida à nova edição da revista Conjuntura Econômica do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, à qual o Valor teve acesso, Prescott afirmou que a descentralização da economia brasileira é fundamental para que o país se desenvolva com maior igualdade. Nos Estados Unidos, lembra ele, o sistema federativo nunca foi tão centralizado quanto é no Brasil. "Começo a ver algumas evidências de concorrência surgindo em Estados do Nordeste do Brasil, como a Bahia, por exemplo. É bom que a economia não fique tão concentrada no Sudeste. É preciso que a arrecadação tributária também não seja tão concentrada como é hoje", avaliou. Em meio a um debate sobre a pertinência de se flexibilizar o sistema de metas de inflação a fim de atingir um crescimento maior do PIB, Prescott defendeu o regime, afirmando que ele reduz muito a incerteza entre os agentes econômicos, assim como o risco nos contratos de longo prazo. "Quando você tem uma sociedade com muita insegurança quanto ao futuro dos preços, há uma distribuição muito acentuada de riqueza entre tomadores e emprestadores. Porque neste caso, o inesperado está embutido no nível de preços. O que há por detrás dessa discussão a respeito dessa questão é o papel de um Banco Central. O papel de um Banco Central, queiram ou não, é zelar por um sistema eficiente de pagamento e crédito. E esse sistema tem que contar com preços estáveis e previsíveis para os juros." A insegurança também foi a razão apontada pelo economista para justificar uma taxa de juros elevada como a brasileira, de 17% ao ano. "Essa taxa é pior do que aquela com a qual os Estados Unidos conviveu nos primeiros anos da década de 80. Se a meta inflacionária é de 5% e a taxa de 17% é anual, eu acho que o que falta é confiança no governo". Professor da Universidade Estadual do Arizona e funcionário do Federal Reserve Bank de Minneapolis, Prescott, de 63 anos, observa na entrevista ao Ibre que, além da confiabilidade nos governos, a tecnologia é outro fator fundamental para tornar uma nação mais rica. Ele testemunhou, por exemplo, a tecnologia usada de forma eficiente em sua própria cidade, onde a Vale do Rio Doce dobrou a produtividade das minas de ferro no Norte do Estado. "As práticas mudaram nas minas de Minnesota: a produção por hora dobrou. Não havia nada errado com as máquinas, mas com o modo da produção. As pessoas que perderam seus empregos, voltaram para ganhar mais".

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