Título: Governo contrata 400 técnicos para retomar a fiscalização agropecuária
Autor: Marta Watanabe
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2005, Brasil, p. A3

Pressionado pelo setor privado a apertar o cerco contra os fiscais em greve há duas semanas, o governo anunciou ontem a contratação imediata de 400 veterinários e agrônomos para retomar a fiscalização de produtos agropecuários e garantir a inspeção em portos e aeroportos. Se a greve continuar, o governo pode ampliar para até 700 as contratações emergenciais e temporárias. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que a medida ajudará a desafogar os portos abarrotados de produtos para a exportação. "Os 30% dos fiscais designados para continuar em atividade não foram suficientes para liberar os portos, sobretudo no Sul", disse. "Por isso, serão contratados tantos quanto forem necessários". O governo estuda opções para evitar o caos provocado pela atual greve, como passar aos estados o poder de fiscalização em portos e aeroportos. Voltou também ao debate a criação de uma agência de vigilância sanitária exclusiva para o setor, separada da Secretaria de Defesa Agropecuária. Em reunião com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, os grevistas recusaram um aumento linear de 8% oferecido pelo governo. Querem isonomia com outras carreiras que daria um reajuste entre 30% e 40%, e equiparação entre ativos e inativos. O setor privado acha que há uma radicalização do movimento. "O clima está muito ruim. Governo e fiscais brigam e nós pagamos o pato", resumiu o presidente da Abipecs (exportadores de suínos), Pedro de Camargo Neto. "Não há mais caminhões, armazéns nem contêineres para a produção". Bernardo classificou como "chantagem" a postura dos grevistas. Os fiscais disseram que o governo menospreza a carreira desde sua criação. O cerco aos grevistas irá mais longe, segundo o secretário-executivo da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto. "Por força de lei, [os grevistas] estão com suas faltas anotadas e terão desconto nos vencimentos", disse, em nota. Além disso, os ocupantes de cargos em comissão (DAS) em greve serão exonerados, informou. A Comissão Nacional de Paralisação busca uma proposta "razoável" para sair da greve. Em março de 2004, os fiscais tiveram um reajuste médio de 24%. Na época, o governo declarou ter atendido a 81% das reivindicações do setor.