Título: Exportador de frango perde US$ 140 milhões e produção do setor é afetada
Autor: Marta Watanabe
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2005, Brasil, p. A3

A greve dos fiscais agropecuários federais gerou uma perda de receita de US$ 140 milhões para os exportadores de carne de frango em 10 dias e já levou indústrias do setor a paralisarem a produção. De acordo com estimativa da Abef (reúne os exportadores de frango), por conta da greve, as empresas estão deixando de embarcar US$ 14 milhões por dia. "A greve atrapalhou enormemente", disse o presidente-executivo da Abef, Ricardo Gonçalves. Segundo ele, a meta de exportar US$ 3,5 bilhões em carne de frango este ano pode ser afetada pela paralisação. Gonçalves explicou que pode haver um "atraso na receita" com as exportações porque parte dos embarques não está sendo realizada. Apesar de 30% dos fiscais estarem trabalhando, há uma "operação-padrão", conforme Gonçalves. Como resultado da greve, disse ele, há 700 contêineres parados no porto de Itajaí (SC). Em Rio Grande (RS), há outros 300 contêineres que não podem ser despachados porque os certificados sanitários não estão sendo emitidos. Com a capacidade de armazenagem saturada em sua unidade de Forquilhinha (SC), a Seara paralisa a partir de hoje os abates na planta, que tem toda a produção direcionada para o mercado externo. De acordo com Clever Pirola Ávila, diretor do negócio aves da Seara, será necessário suspender o abate diário de 165 mil aves na unidade porque os estoques de carne de frango se acumulam, já que os fiscais não emitem os certificados sanitários necessários para a saída do produto. Segundo ele, são 2 mil toneladas acumuladas em câmaras frigoríficas, além de 29 caminhões refrigerados lotados. Só esta semana, informou Ávila, a Seara, que é controlada pela Cargill, deixou de exportar US$ 12 milhões. E a situação pode piorar se a greve for mantida. "Outras unidades [da Seara] caminham para a situação de esgotamento", afirmou. A empresa tem sete plantas de aves e suínos. Além de Forquilhinha, são outras três em Santa Catarina (Jaraguá do Sul, Itapiranga e Seara), Jacarezinho (PR), Nuporanga (SP) e Sidrolândia (MS). Segundo Ávila, se a greve persistir, a produção também será reduzida em outras fábricas. "Reconhecemos a legitimidade da greve, mas toda a cadeia produtiva está sendo prejudicada", queixou-se o diretor da Seara. Um efeito da paralisação, disse Ávila, é a piora da produtividade já que as aves terão de ficar mais tempo na granja antes do abate. Além disso, elas ganharão mais peso ficando fora das especificações exigidas pelos clientes. A Perdigão também enfrenta problemas para armazenar suas cargas no porto de Itajaí, segundo o diretor de relações institucionais da empresa, Ricardo Menezes, porque não há mais local para armazenagem das cargas. "Estamos tendo grandes problemas na logística e pequenos problemas na parte industrial", informou. O secretário de agricultura da Santa Catarina, Moacir Sopelsa, confirmou que não há espaço no porto e criticou a decisão do ministro Roberto Rodrigues de contratação emergencial de fiscais. "Esse processo é burocrático. Vai levar de três a quatro dias. E nesse momento, três dias representam um ano". (Colaborou Vanessa Jurgenfeld, de Florianópolis)