Título: PMDB aprova convenção para decidir sobre apoio ao Planalto
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2004, Política, p. A10

A cúpula do PMDB decidiu ontem convocar uma convenção nacional no dia 12 de dezembro, que poderá aprovar o rompimento com o governo, a entrega dos ministérios que ocupa atualmente e a retirada da letra "P" da sigla do partido, voltando à denominação que foi um símbolo oposicionista durante o regime militar. As três questões, entretanto, poderão ser decididas uma semana antes: na mesma reunião que marcou a convenção, o deputado Jader Barbalho (PA) ex-presidente do partido, apresentou a proposta de que todos os diretórios regionais se reúnam em separado até o dia 5 para fazerem uma "recomendação" à direção nacional sobre estas questões. É uma estratégia do grupo governista do partido: para os apoiadores do governo federal, é mais fácil obter uma maioria numérica no conjunto dos 26 Estados e Distrito Federal, onde o peso de São Paulo será igual ao de Rondônia, do que na convenção, lugar em que os estados mais populosos, controlados por dirigentes que querem independência ou oposição ao governo federal, têm mais peso. "Se a maioria dos diretórios for contra o rompimento, talvez nem tenha convenção. Vamos ver. O PMDB é assim. Nasci neste meio", afirmou depois do encontro o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira. Na reunião de ontem, que envolvia a Executiva Nacional - de maioria governista - com os seis governadores que defendem o afastamento do Planalto e diversos dirigentes e prefeitos com a mesma tendência, o presidente da legenda, Michel Temer, conseguiu aprovar a proposta de convocação da convenção nacional por aclamação, sem ter que colher os votos individuais dos membros da Executiva. Em contrapartida, teve de ceder a Jader, aprovando os encontros regionais da mesma maneira. Avesso a pronunciamentos públicos desde que renunciou ao mandato do Senado para não ser cassado, em 2001, Jader ameaçou a platéia com o fantasma do esfacelamento do partido, longe do poder federal. "Me preocupa uma decisão precipitada, rendundando no fracionamento. Não vamos fazer como no passado, tomando decisões e não tendo depois como sustentá-las. Chega de fazer as coisas pela metade", disse o paraense. De todos os governistas, apenas o presidente do Senado, José Sarney (AP), se expôs de forma direta. Tomou a palavra e defendeu o governo Lula, passando pelo constrangimento de ser vaiado pelos correligionários. "Tenham consideração com quem foi presidente da República e elegeu 21 governadores do partido. Está no estatuto do partido que o PMDB admite divergências e correntes contrárias", disse, expondo a sua tese: como não houve uma convocação formal ontem para a Executiva Nacional discutir o rompimento do governo, não poderia haver deliberação nenhuma na reunião. Sarney foi rebatido pelo governador gaúcho, Germano Rigotto. "Vim para esta reunião com a pauta amplamente noticiada pela imprensa e não vou ficar no detalhe e no formalismo do que diz a convocação. O PMDB não pode se atrelar ao governo, e não se atrelando, precisa se afastar dos cargos", disse, sob aplausos. "Uma leitura atenta e a observação dos precedentes desta reunião mostram que a intenção nossa era buscar um rumo político. Vamos deliberar", decidiu Temer.