Título: Lula elogia Dilma e diz que Palocci "saiu-se bem"
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2005, Política, p. A9

Crise Manifestação de solidariedade era esperada por aliados do ministro

Um dia depois do depoimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um elogio tão discreto ao desempenho do ministro diante dos senadores que foi difícil aos seus interlocutores identificarem como elogio a declaração. Ao término da solenidade de entrega do "Selo Combustível Social", no Palácio do Planalto, o presidente limitou-se a repetir, três vezes, que Palocci "foi bem" na apresentação. "Eu não consegui assistir porque estava trabalhando mas, de qualquer forma, pelo que eu vi que vocês escreveram, ele foi bem". Bem humorado, Lula não quis responder se Palocci era o homem forte do governo. "Toda vez que vocês criam um homem forte num dia, no outro vocês querem derrubar", brincou o presidente, tergiversando para não dar apoio explícito ao ministro da Fazenda. O líder do governo no Senado. Aloizio Mercadante, havia anunciado na noite de quarta-feira que ontem, quinta, o presidente faria pronunciamento claro de apoio a Palocci. Isto não aconteceu. Lula aproveitou a solenidade, porém, para elogiar e demonstrar proximidade com a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, pivô da briga interna no governo sobre alterações nas metas de superávit primário para os próximos anos. Em um discurso de cerca de 15 minutos sobre a inclusão de agricultores familiares no projeto de produção de biodiesel - a cargo, atualmente, dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário, cujo titular é Miguel Rossetto, e Minas e Energia, comandado por Silas Rondeau, Lula citou cinco vezes a chefe da Casa Civil, presente na solenidade. Num primeiro momento, ao demonstrar otimismo com a expansão do projeto, o presidente declarou que "não faria um desafio a Rossetto porque, indiretamente, iria desafiar a Dilma". Mais para frente, Lula declarou que o projeto "foi muito bem montado e coordenado pela companheira Dilma e, hoje, encontra-se sob a coordenação dos companheiros Silas Rondeau e Miguel Rossetto". O discurso prosseguiu com mais um elogio. "Não poderia deixar de parabenizar a Dilma Rousseff. A primeira pessoa que me falou de biodiesel foi o companheiro Roberto Rodrigues (ministro da Agricultura). Montamos uma comissão com vários ministros e colocamos a companheira Dilma para coordenar". No fim do discurso, sob aplausos, mais uma referência à chefe da Casa Civil. "Companheira Dilma, meus parabéns, ministro Rossetto, meus parabéns". Durante a reunião da coordenação política, na parte da manhã, também no Planalto, Lula havia demonstrado surpresa com as reportagens publicadas ontem mostrando que ele elogiara o desempenho da economia, durante a 3ª Convenção de Ciência e Tecnologia, na manhã de quarta, mas não citara nominalmente o ministro da Fazenda. "Puxa vida, eu vivo defendendo o Palocci, é o que mais faço. Se pegar meus discursos, talvez seja ele o ministro que eu mais defendi neste tempo", teria dito Lula, segundo relato de presentes. Apesar da ausência de uma declaração pública de apoio, a avaliação de Lula e do núcleo político do governo, nesta reunião, foi de que a ida de Palocci ao Senado deu uma sobrevida ao ministro no governo. Durante almoço com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Lula elogiou a performance de Palocci, declarando que ele "conduziu o debate de forma civilizada". De acordo com Renan, Lula assistiu o depoimento de Palocci na CAE até o fim, pouco depois da 1h da manhã de quinta. Os articuladores políticos do governo reconhecem que é praticamente inevitável uma nova ida de Palocci ao Senado para depor na CPI dos Bingos - o requerimento de convocação deve ser votado na próxima terça. Temem ainda o surgimento de novas denúncias contra o ministro. Mas reconhecem que existe uma corrente de proteção a ele no governo, que acabou incluindo até mesmo o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), crítico da política econômica executada no Ministério da Fazenda.