Título: Encontro prevê mudança econômica num 2º mandato
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2005, Política, p. A7

A Carta ao Povo Brasileiro, proposta de estabilidade econômica feita durante a campanha de 2002 de Luiz Inácio Lula da Silva, poderá ganhar uma versão menos ortodoxa caso o presidente concorra à reeleição. O PT começa a se mobilizar e organizar o programa para um segundo mandato, com nova proposta de desenvolvimento econômico, baseada no crescimento dos investimentos, flexibilização na relação dívida/ PIB e nas metas de inflação e de superávit primário. A linha geral do projeto de governo será estruturada no encontro nacional da legenda, no começo de 2006. O tom das mudanças na política econômica deve demorar mais alguns meses para ser definido e a expectativa é que ele seja consolidado durante a campanha. Lula ainda não confirmou sua candidatura à reeleição, mas dentro do PT "mais de 90%" querem que ele concorra, segundo o ex-presidente da sigla Tarso Genro. O cenário econômico com inflação mais controlada e vulnerabilidade externa reduzida é considerado favorável a propostas de mais investimentos em infra-estrutura, em projetos de distribuição de renda e em educação, pontos levantados por especialistas sociais e econômicos durante o seminário "PT e o Brasil", realizado no sábado. "Se houver uma nova carta, ela precisará apontar claramente que vai ter mudança, com maior crescimento econômico e mais geração de empregos, e que os indicadores vão melhorar. Nosso crescimento é muito abaixo da média dos países emergentes", disse o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Para o cientista político Juarez Soares, o partido não deve "repetir o documento de 2002, que foi defensivo à enorme chantagem especulativa". "Uma nova carta deve ser capaz de dar passos para superar não apenas a fome, mas a miséria do país." Os petistas foram ponderados em suas avaliações sobre o governo. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini defendeu o ministro da Fazenda Antonio Palocci, mas ressaltou que a política econômica é do governo, não de uma pessoa. "Palocci vai ficar até o final do governo. Ele é muito importante, mas a política econômica é do presidente, não do ministro". O especialista em finanças públicas Amir Khair, o ministro da Educação, Fernando Haddad, além de Tarso Genro, Belluzzo e Berzoini descartaram mudanças substanciais na política econômica em 2006 e minimizaram as divergências entre o Palocci e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Para um segundo mandato, há expectativa de mudança econômica. Amir Khair criticou a política de investimentos. "Avançamos em sentido sadio, mas o país está contido". "O governo fez uma política econômica conservadora. O Brasil saiu do FMI, mas o FMI não saiu do Brasil. Não é gesto de ruptura fazer algumas mudanças", analisou Belluzzo. O novo projeto de governo também deve apelar para a esperança, como defende Juarez Soares. "Precisamos anunciar uma nova etapa de transformação no Brasil. Chega de falar em realizações. Vamos restaurar valores utópicos, capazes de falar com a esperança". O encontro nacional do partido, que define o programa de governo, o candidato e a política de alianças para as próximas eleições, foi adiado de dezembro para o começo do próximo ano por falta de recursos. O PT acumula dívida de mais de R$ 52 milhões.