Título: PSDB paulista articula candidatos para disputa do Estado com PT
Autor: Maria Lúcia Delgado, Raymundo Costa e Cristiane Ag
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2005, Política, p. A8

Animados com as possibilidades de disputa acirrada com o PT no cenário nacional, para a eleição presidencial de 2006, os tucanos também deram largada às articulações para tentar manter uma hegemonia de 12 anos em São Paulo. O partido, no entanto, vive um jogo de intrigas e só deve definir o candidato ao governo do Estado em abril do próximo ano. Pelo cenário atual, o mais provável é que concorram à prévia o vereador José Aníbal e o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, na hipótese deste obter as bençãos de cardeais tucanos, como Fernando Henrique Cardoso. Mas correm por fora os ex-deputados Aloizio Nunes Ferreira e Arnaldo Madeira, secretários de governo do prefeito José Serra e do governador paulista Geraldo Alckmin, respectivamente, dois influentes e decisivos eleitores. Dentro do tucanato paulista cogita-se também o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman, e o secretário estadual da Habitação, Emanuel Fernandes. Aníbal e Paulo Renato já estão em plena campanha. O ex-ministro enviou uma carta aos "companheiros tucanos" em que se apresenta pré-candidato e diz que quer "governar São Paulo para ser o governador da Educação". Paulo Renato nunca disputou um cargo eletivo, mas considera que seu desempenho no ministério é um trunfo. Preferido nas pesquisas internas, José Aníbal também está em plena campanha na capital e interior do Estado. "Todos têm o direito de se colocar", afirmou. Todos os pré-candidatos dizem não acreditar que a sucessão estadual será uma espécie de troféu de consolação para o prefeito José Serra ou o governador Geraldo Alckmin, ou seja, que aquele que perder a convenção nacional para disputar a presidência da República vai dar as cartas no Estado. Mas é com isso que contam os afilhados de um ou de outro. E dirigentes tucanos são categóricos ao dizer que quem ficar no governo terá influência na decisão: "Sendo Geraldo o candidato à Presidência, a ponderação de Serra vai ter peso maior na escolha", diz o deputado federal e ex-presidente do estadual Antonio Carlos Pannunzio. "Pode ter maior influência, mas o candidato vai ter que ser em consenso", pondera o atual presidente estadual, deputado estadual Sidney Beraldo. Mas a realidade não é tão matemática assim. O fato é que sete pesquisas qualitativas feitas pelo PSDB mostram que Alckmin, Serra e Fernando Henrique, nesta ordem, são importantes na definição do candidato. Paulo Renato, que esteve em Brasília na semana passada, chegou a brincar: "Por via das dúvidas, estou bem com os três". O ex-ministro da Educação aparece como o candidato favorito de Fernando Henrique. Entre os dois, Serra tem dado indicações de que preferiria outra opção: o secretário e também ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira. Alckmin disse a Aníbal que não tem carta na manga (o secretário Emanuel Fernandes ou Madeira) e que seu candidato será o candidato que o PSDB escolher. Segundo as pesquisas em poder dos tucanos Alckmin é o grande eleitor no Estado. O governador de São Paulo transfere cerca de 74% dos votos; Serra 50% e Fernando Henrique 34%. Os tucanos sondaram ainda o percentual de transferência de votos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e concluíram que a presença dele não será tão decisiva para o candidato petista ao governo, seja ele Marta Suplicy ou Aloizio Mercadante. Lula, dependendo da região, transfere de 24% a 16% dos votos. "Essas pesquisas mostram que entre os pré-candidatos do PSDB e do PT há um empate técnico. Mas temos a vantagem de ter Alckmin como grande eleitor", acredita Pannunzio. "Todos os candidatos do PSDB foram secretários ou ministros, mas aqui em São Paulo não há candidato natural", resume Arnaldo Madeira. Com perfis diferentes de candidatos, o PSDB pretende realizar uma pesquisa qualitativa ainda neste ano para sondar junto à população qual o perfil e postura mais desejados, e mais duas qualitativas no começo de 2006, antes de definir o nome do candidato em março. "Não vejo razão para antecipar a escolha (do candidato). A hora é de estimularmos várias lideranças a exporem suas idéias e correrem o partido", defendeu Geraldo Alckmin. O governador enfatizou que não há uma ligação direta entre a disputa presidencial e a disputa de governo em São Paulo. "Há uma lógica própria na disputa estadual", alegou. Para Alckmin, o PSDB terá que apostar as fichas nesta disputa, pois está há 12 anos no poder. "Temos uma história de governo em São Paulo, desde Mário Covas, calcada em princípios e valores", disse o governador. Ele preferiu não comentar se, para o PSDB, qual é o melhor candidato do PT. "Isso é uma decisão do outro partido. Só sei que vamos manter uma campanha com alto nível de civilidade, independente do adversário", assegurou. Os tucanos tentam evitar ao máximo a realização de uma prévia e buscam consolidar um clima de união partidária. "O partido tem de sair unido. Não podemos repetir as defecções que houveram na última eleição presidencial, com a campanha de Serra. Não vamos ter possíveis ciumeiras", deseja Antonio Carlos Pannunzio. A previsão partidária é de consolidar o nome do candidato em março, mês planejado também pelo PT para definir seu postulante. Entre os petistas, a disputa é acirrada entre a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante e deve levar o partido a convocar uma prévia entre os 190 mil filiados paulistas.