Título: Câmbio reduz receita com exportação de máquinas agrícolas
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2005, Agronegócios, p. B12

Veículos Resultado em dólar deve ser recorde este ano, mas faturamento cairá 3% em moeda nacional

A valorização do real frente ao dólar vai reduzir a receita das indústrias com as exportações de máquinas agrícolas este ano. A previsão do setor é de uma receita recorde em dólares, mas o resultado em reais deve ficar abaixo do registrado em 2004. Neste ano, segundo a Associação Nacional dos Veículos Automotores (Anfavea), o setor exportará o equivalente a US$ 2 bilhões, ante US$ 1,727 bilhão no ano passado, aumento de 15,8%. O problema é que, ao longo do ano, o real se valorizou 17,45% em relação ao dólar, segundo a média da PTAX calculada pelo Valor Data. Convertendo os valores das exportações para reais (PTAX média de R$ 2,92573 em 2004 e de R$ 2,45757 até sexta-feira), a receita em 2005 fica estimada em R$ 4,9 bilhões, ante R$ 5,05 bilhões em 2004. Persio Luiz Pastre, vice-presidente da Anfavea, observa que os preços internacionais mantiveram-se praticamente estáveis e, por isso, o câmbio afetou negativamente o setor. "As montadoras procuraram reduzir custos e cumprir os contratos, mas a queda do dólar reduziu a competitividade das empresas brasileiras." Ele diz que uma nova alta do real em 2006, como é previsto por alguns analistas, preocupa. Se isso ocorrer, segundo Pastre, o setor pode perder competitividade e participação no mercado externo, hoje próxima de 5%. Do total das vendas externas brasileiras, 54,3% são destinadas a países da América do Sul (só a Argentina responde por 24,9% do total), 19,4% a países da América do Norte, 10,1% para África, 9,7% para Ásia e o restante para América Central, Europa e Oceania, segundo a Anfavea. Orlando Capelossa, gerente de vendas da Valtra, controlada pela americana AGCO, afirma que por conta do câmbio, a empresa reduziu as exportações este ano em 50%, sobre as 2.851 unidades embarcadas em 2004, conforme a Anfavea. As vendas externas correspondem a 29% das vendas totais da empresa. "Para 2006 a previsão é manter o mesmo nível de desempenho no Brasil e no exterior, tendo em vista que o cenário permanece desfavorável", afirma Capelossa, apontando o câmbio, a queda na produção agrícola e o alto grau de endividamento dos produtores ainda como fatores de desestímulo às vendas. No mercado interno, a Valtra reduziu as vendas em 26,2% no acumulado de janeiro a outubro, sobre igual período de 2004, para 4.691 unidades. A queda menor que a do mercado deveu-se ao aumento da demanda nos setores de cana-de-açúcar, café e citricultura e à procura por tratores de menor porte. De acordo com a Anfavea, no dez primeiros meses do ano, as vendas do setor no Brasil atingiram 20.508 unidades, 39,2% menos que no mesmo período de 2004. As exportações, por sua vez, cresceram 5,7% em volume, para 27.216 unidades, superando pela primeira vez o desempenho do mercado interno. Em receita, houve crescimento de 19,5% até outubro, para US$ 1,704 bilhão. A John Deere, que historicamente exporta de 35% a 40% da produção, aumentou esse índice para 50% este ano, devido à queda nas vendas internas de 44% no caso de tratores e de 72,5% nas colheitadeiras, segundo Gilberto Zago, diretor de relações institucionais. Ele não citou números, mas disse que as exportações cresceram em volume, mas que o câmbio derrubou a receita em relação a 2004, quando exportou 5.748 unidades. Mesmo com receita menor, a John Deere manteve os investimentos de US$ 250 milhões em uma fábrica em Montenegro (RS). Jacir Smaniotto, supervisor nacional de vendas da Agrale, afirma que embora as exportações em volume tenham crescido em torno de 6%, a receita foi comprometida pelo câmbio. A empresa exporta 10% de sua produção. A Anfavea deve divulgar suas estimativas para 2006 no próximo mês.