Título: Analistas são unânimes na aposta em corte de 0,5 ponto na taxa Selic
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2005, Finanças, p. C2

O Banco Central até teria espaço para cortar o juro básico (taxa Selic) em 0,75 ponto percentual, para 18,25% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que começa amanhã e vai até quarta-feira. Mas a mais provável decisão do Copom deve ser o corte de 0,5 ponto percentual, por coerência com sua postura conservadora, por causa de números maiores do que os esperados para a inflação corrente e da crise política. Essa foi a opinião unânime de 20 analistas em pesquisa feita pelo Valor. "Apesar da atividade econômica fraca, a probabilidade de o BC cortar os juros em 0,75 ponto percentual se reduziu por causa do cenário político", afirma Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments. A própria discussão em torno do superávit fiscal primário (sem considerar pagamentos de juros) também interfere na política monetária, lembra. Se os gastos públicos se ampliarem neste fim de ano, com o governo fazendo esforço extra para gastar o excedente de cerca de R$ 16 bilhões já realizado em relação à meta de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB), o impacto na demanda não seria desprezível, acredita a economista, reduzindo o espaço para o corte na Selic. E juros mais baixos, afirma ela, reduzem a pressão por um superávit primário maior em 2006, pois a relação entre a dívida total do setor público e o PIB cai mesmo sem esforço fiscal. Neste momento, o BC pode e deve cortar juros, na visão dos analistas. "O uso da capacidade instalada despencou ao mesmo tempo que uma ampliação da capacidade produtiva está em curso, com a maturação de diversos investimentos", afirma Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Asset Management. "A capacidade de crescimento da economia sem gerar inflação, o chamado hiato do produto, está bem mais favorável a um corte de juros neste momento", concorda Marcelo Saddi Castro, diretor de renda fixa do BNP Asset Management. Ele considera 0,5 ponto percentual de redução o mais provável, mas não descarta, como a equipe econômica do Bradesco, um corte maior. Uma atuação mais agressiva também se justificaria por causa do câmbio real mais apreciado, que vai impactar no IGP-M deste ano, índice que indexa vários contratos para 2006, como tarifas públicas e aluguéis, lembra Penteado. Ele não vê uma queda da atividade econômica neste momento, mas sim um "ajuste de estoques", pois os dados sobre inflação, salário, renda, emprego, crédito e confiança na economia mostram o contrário. "Mas não é por que a economia não está desacelerando que o BC deve mudar sua política de cortes graduais nos juros, visto que há espaço para aumento da produção sem gerar inflação", afirma ele. Para Jason Vieira, economista da Global Invest, o IPCA de outubro, que veio acima do esperado, é um fator que deve levar o BC a ser mais cautelo. Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, vê o IPCA de outubro como a "surpresa negativa", com força suficiente para impedir que o Copom venha a ampliar o ritmo de corte na Selic. Adauto Lima, economista do WestLB, também acredita que o Banco Central deve optar pela cautela e esperar por mais números sobre o nível de atividade econômica antes de se decidir por um corte maior. Para Miguel Daoud, da Global Financial Adviser, "os canais de transmissão da política monetária no Brasil são imperfeitos e é sempre impossível prever o impacto na mexida nos juros sobre a economia", diz. Por isso, é aconselhável esperar para ver. "O cenário permitiria uma atitude mais ousada do BC, mas acredito que ele será cauteloso", diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. Para ele, um corte de 0,75 ponto é perfeitamente possível, por causa também da projeção para a inflação de 2006 estar convergindo para a meta de 4,5%. Saddi Castro lembra que, no relatório de inflação de setembro, o BC já mostrava tranqüilidade com relação a essa meta de inflação para 2006 e, desde então, a situação externa ficou mais tranqüila, o câmbio mais forte e a atividade econômica vem mostrando menos vigor. Rosa acredita que se os próximos números da atividade econômica vierem fracos o BC será mais ousado a partir de 2006. Renato Szklo, diretor de renda fixa da Ático Asset Management, também não descarta uma queda de 0,75 ponto, amparado nos últimos números da produção industrial. Mas ele avalia, porém, que o BC vai manter seu "conservadorismo extremo" e esperar pela produção industrial de outubro e pelo PIB do terceiro trimestre para fazer um corte maior na Selic no futuro.