Título: Brasil quer elevar vendas à Argélia em US$ 500 milhões
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2005, Brasil, p. A3

Com os preços do petróleo e derivados nas alturas, os argelinos estão comprando de tudo: automóveis, máquinas, geladeiras, compressores, aço, equipamentos de telecomunicação. A economia da Argélia, sétima maior reserva de gás natural do mundo e segundo maior exportador, cresceu 5,2% em 2004, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A previsão é crescer mais 4,8% este ano, e 5,2% em 2006. O país também vive raro momento de estabilidade política e está abrindo a economia. Promete privatizar, parcial ou totalmente, mais de mil empresas e tem plano de investir US$ 60 bilhões em infra-estrutura nos próximos cinco anos. Ex-colônia francesa, a Argélia viveu na década de 60 uma das mais sangrentas guerras de independência. O país está situado no norte da África, na região do Magrebe, entre Marrocos, Tunísia, mar Mediterrâneo e a porção ocidental do deserto do Saara. O petróleo representa 30% do Produto Interno Bruto (PIB) e 95% das exportações. O Brasil está participando pouco do "boom" econômico argelino. Em 2004, as importações da Argélia provenientes do Brasil representaram apenas 1,4% das compras externas totais do pais. Os principais fornecedores foram a França, com mais de 30%, seguida por Itália, Alemanha, Espanha, China, Estados Unidos e Turquia. A pauta do Brasil para a Argélia ainda é pouco diversificada: o açúcar bruto respondeu por 25,3% do total dos embarques, o açúcar refinado por 5,1%, carne bovina por 237%, e óleo de soja bruto por 10,7%. Os automóveis ganharam espaço com 4,3% e os refrigeradores representam 3,5% do total. De acordo com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, o objetivo é elevar em US$ 500 milhões as exportações para a Argélia nos próximos dois anos. A meta é ambiciosa, já que as exportações do Brasil para a Argélia somaram apenas US$ 340 milhões de janeiro a outubro deste ano e US$ 349 milhões em 2004. Mesmo esse esforço não será suficiente para reverter o déficit na balança comercial entre Brasil e Argélia, que chegou a US$ 2 bilhões de janeiro a outubro deste ano. É o segundo maior déficit da balança comercial brasileira, perdendo apenas para a Nigéria. Ambos os países são fornecedores importantes de petróleo para o Brasil. Mais de 99% das exportações da Argélia para o país são petróleo e derivados, que chegaram a US$ 2,34 bilhões de janeiro a outubro. A exemplo do que havia feito na Nigéria este ano, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior organizou uma missão empresarial para tentar reverter essa balança e participar mais da atual pujança econômica da Argélia. "O Brasil tem disponível, a preço competitivo, praticamente tudo que a Argélia precisa", disse Furlan, em seminário para empresários brasileiros e argelinos, ontem em Argel. Formada por 70 pessoas - 50 empresários e 20 membros do governo -, a missão chegou à capital da Argélia no domingo e volta para o Brasil hoje. Entre as companhias que fazem parte do grupo, há representantes das construtoras Andrade Gutierrez, Camargo Correa e Odebrecht, das empresas de transporte Randon e Neobus, da Embraer, do frigorífico Minerva, além de representantes do setor de software, energia elétrica, entre outros. Pelo setor público, lideram a missão Furlan e o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Participam representantes da Petrobras, do BNDES e da Apex. Ao comparar as pautas de exportação do Brasil e de importação da Argélia, o governo brasileiro apurou que há espaço para incremento das vendas em equipamentos de telecomunicações, automóveis e veículos de carga, aquecedores, autopeças, bens de informática, entre outros setores. O grande filão para o setor privado brasileiro, contudo, está na construção civil, já que a Argélia anunciou planos de investir US$ 60 bilhões em cinco anos. Segundo Clóvis Martines, diretor da Zagarope Construções e Engenharia, braço da Andrade Gutierrez em Portugal, a empresa apresentou proposta para construir duas barragens na Argélia - uma por US$ 70 milhões, outra por US$ 20 milhões. Flávio Machado Filho, diretor de relações institucionais da Andrade Gutierrez no Brasil, conta que a companhia também deve entregar no início do ano, em parceria com outras construtoras brasileiras, uma proposta para participar da licitação de uma estrada que irá do Marrocos a Tunísia, cortando o país de leste a oeste. A obra está avaliada em US$ 7 bilhões. A construtora fatura cerca de US$ 1 bilhão, 40% com exportação. Na África, está fazendo estradas em Camarões, Mauritânia e em Angola.