Título: País vai montar veículos brasileiros
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2005, Brasil, p. A3

Ônibus e caminhões produzidos com tecnologia brasileira estarão, em poucos meses, circulando pela estreitas e sinuosas ruas de Argel, a capital da Argélia, cidade de 2 milhões de habitantes no norte da África, encravada nas montanhas, às margens do mar Mediterrâneo. Os veículos serão produzidos no país, mas com "sotaque" gaúcho. As peças virão de Caxias do Sul, interior do Rio Grande do Sul. Randon e Neobus, ambas com sede na cidade gaúcha, fecharam parcerias com a Cevital, maior grupo privado da Argélia. Os negócios funcionam de forma similar no caso das duas empresas. As brasileiras transferirão a tecnologia e exportarão os veículos desmontados. Dessa maneira, economizam no frete e pagam tarifa de importação menor. Muitos países cobram uma taxa de internalização menor para peças do que para veículos prontos. A Cevital cuidará da montagem e da comercialização. A fábrica Randon-Cevital começou a funcionar há 30 dias em um terreno nos arredores de Argel e está produzindo semireboques para caminhões. No domingo, a unidade recebeu a visita de uma missão empresarial brasileira, liderada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Já a unidade da Neobus será instalada em terreno anexo e deve iniciar as operações a partir de maio do ano que vem. Serão fabricados ônibus urbanos e microônibus. De acordo com Erino Tonon, diretor corporativo e de operações da Randon no Brasil, a meta é produzir 1,6 mil reboques em parceria com a Cevital durante os primeiros 12 meses de operação da fábrica. Cerca de 170 pessoas estão trabalhando na unidade. "A montagem local nos permite economizar no frete", diz o executivo. A Randon exportou para a Argélia entre 1977 e 1987, mas interrompeu os embarques devido à instabilidade política, conta Tonon. As exportações foram retomadas em 1999, a partir da eleição do presidente Abdelaziz Bouteflika. Ele foi reeleito em maio de 2004 para mais um mandato de cinco anos. A fábrica da Neobus começará a funcionar em maio e vai produzir cinco ônibus por dia, explica Itacir Osso, gerente de exportação da empresa. A companhia pretende investir no projeto US$ 6 milhões nos próximos cinco anos. O executivo conta que 12 funcionários da empresa estão de malas prontas para viajar para a Argélia e ensinar aos argelinos como se fabricam os ônibus da empresa. Líder do mercado brasileiro de microônibus, a Neobus faturou R$ 180 milhões em 2004. A exportação respondeu por 30% desse total. A empresa possui uma unidade no México e também começou a fabricar ônibus no Marrocos. Atualmente, a Neobus exporta para Chile, Equador, EUA, Jordânia, Irã, Angola, El Salvador, Costa Rica e Venezuela.(RL)