Título: Depoimento de Brant não convence relator
Autor: Thiago Vitale Jayme e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2005, Política, p. A8

O deputado Roberto Brant (PFL-MG), 19 anos de mandato parlamentar, defendeu-se ontem no Conselho de Ética da Câmara das denúncias de envolvimento seu com o esquema montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. O pefelista procurava, a todo instante, lembrar sua trajetória política limpa. "Em cada semana que passei aqui no Congresso vai ser encontrada uma atuação honrosa. Já fui o comandante do ministério da Previdência e secretário de governo em Minas Gerais e não há um só processo contra mim em qualquer tribunal de contas", disse. Brant estava à vontade no Conselho de Ética. Poucos parlamentares acompanharam o depoimento e, aqueles presentes, eram ou de Minas Gerais ou seus correligionários - inclusive o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), que declarou apoio ao colega "em qualquer instância". Não faltaram elogios à trajetória do ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso. O político disse ter a intenção de abandonar a vida pública depois de terminado o julgamento, seja qual for o resultado. O nome do deputado surgiu nas investigações da CPI dos Correios, quando um assessor de Brant apareceu na relação de sacadores do Banco Rural, em Belo Horizonte. O deputado reconheceu imediatamente o recebimento de R$ 102,8 mil como contribuição da Usiminas, repassados a ele por meio da SMP&B, do empresário Marcos Valério. "Recebi uma ligação do presidente da empresa, que me ofereceu o dinheiro", repetiu ontem, ao citar o executivo Rinaldo Soares. O deputado era candidato à prefeitura de Belo Horizonte na época, em 2004. O valor não foi declarado à Justiça Eleitoral, o que configuraria prática de caixa 2. Brant reconhece a falta de registro do dinheiro, mas refuta a versão do caixa 2. "Eu guardei o dinheiro para usá-lo, se fosse necessário. Em setembro de 2004, quando percebi que minha campanha não decolaria, usei o dinheiro para pagar uma dívida com uma empresa que fez o programa partidário do PFL antes da campanha começar", justificou. Segundo Brant, em abril de 2004, foi fechado um pacote de programas políticos com a PMP Comunicações. Pagaria R$ 400 mil para a elaboração de programas partidários aos quais o PFL tinha direito e também para a criação de propagandas de TV para a campanha. O deputado pagou R$ 270 mil para quitar as dívidas eleitorais - devidamente declaradas - e os R$ 102,8 mil teriam sido destinados para o pagamento das despesas dos programas partidários (os demais R$ 28 mil teriam sido perdoados pelo dono da produtora). Nelson Trad (PMDB), relator do processo, estranhou a cronologia dos pagamentos. "É curioso que a primeira parcela foi destinada a pagar as dívidas da campanha, que estava em curso, e a dívida dos programas partidários, feita antes do início do período eleitoral, só foi paga em setembro, justamente com o dinheiro da Usiminas", disse o relator. Brant também tentou explicar os motivos pelos quais a PMP Comunicações emitiu a nota fiscal do recebimento dos R$ 102,8 mil como pagamento de dívidas da campanha eleitoral. "Como estávamos na época das eleições, a contadora da empresa se confundiu e fez o recibo nos mesmos moldes dos demais recibos emitidos na época. Foi um equívoco", afirmou. Sem comprovação de que o dinheiro recebido da SMP&B é mesmo proveniente da Usiminas, o deputado disse que os outros dois candidatos à prefeitura, João Leite (PSB) e Fernando Pimentel (PT), também teriam recebido doações da empresa. Trad deixou o depoimento sem ter muita convicção da inocência de Brant. "Ele foi muito sincero. Mas ele está em uma encruzilhada. Ao afirmar que usou o dinheiro não contabilizado para pagar um programa do partido e não de campanha, ele escapa de ser enquadrado na Lei Eleitoral mas afronta a Lei dos Partidos Políticos", disse o relator.