Título: Banqueiros e economistas criticam Dilma
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2005, Política, p. A9

As críticas da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não agradaram em nada os banqueiros e economistas reunidos ontem em um seminário promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O argumento é que um aumento dos gastos públicos, como proposto por Dilma, vai colocar em risco a política de queda nos juros. "Só a miopia de uma esquerda burra não consegue ver isso", afirmou Affonso Celso Pastore, economista e ex-presidente do Banco Central. Para ele, a política econômica de Palocci é "extremamente racional e benéfica para o país". O economista defendeu a "manutenção ou elevação" das atuais metas de superávit fiscal como um caminho para o Brasil ter juros mais civilizados. O argumento de Gustavo Loyola, consultor da Tendência e também ex-presidente do Banco Central, vai na mesma direção. "Dilma está atirando contra aquilo que o governo tem de melhor", avalia. "Uma das raras áreas de sucesso do governo é justamente a da área macroeconômica, do ministro Palocci", diz, completando que o presidente Lula deveria apoiar mais claramente o ministro da Fazenda. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, embora não tenha citado o nome de Dilma ou de Palloci, também ressaltou a necessidade de o Brasil ter um superávit primário "suficiente para manter decrescente a relação entre dívida pública e PIB". Para ele, o crescimento e a estabilidade só virão com muito trabalho. "Nenhum dos países vencedores no mundo buscou o caminho fácil", disse no encerramento do "4º Seminário Febraban de Economia". Na avaliação de Pastore, é natural que com a proximidade da eleição apareçam discussões para o aumento dos gastos públicos. "Essa é uma visão errada. Há hoje uma opção de acelerar a redução dos juros, contra a opção de aumentar os gastos públicos. Com os gastos maiores, a aceleração do corte de juros fica comprometida", diz. Tanto Pastore quanto Loyola concordam que há, hoje, espaço para uma maior redução dos juros. A razão é o cenário que combina desaquecimento da economia com real supervalorizado, com impactos positivos nas taxas de inflação. "A maioria dos bancos centrais no mundo reagiria a este cenário desta forma", disse Pastore.