Título: Lula limita-se a defender a política econômica
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2005, Política, p. A9

Crise Sem elogiar Palocci, presidente diz que não vai se render à "pequenez eleitoral" para mudar rumos

Duas semanas depois do estouro da crise provocada pelas críticas da ministra Dilma Rousseff à política econômica, executada pelo ministro Antonio Palocci, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu para defender o ajuste fiscal, promovido pela Fazenda, objeto da crítica. Durante a cerimônia, no Palácio do Planalto, de sanção da Medida Provisória 255, a chamada MP do Bem, Lula afirmou que não vai se render à "pequenez eleitoral" para promover mudanças nos rumos tomados até agora. Assegurou que o ministro Palocci é o seu ministro da Fazenda, que a ministra Dilma é a sua ministra da Casa Civil e que eles são pessoas escolhidas para fazer o que estão fazendo. "Se alguém quiser continuar especulando sobre economia, por favor, se dirija à Bolsa de São Paulo e deixe o governo fazer as coisas que vem fazendo", reclamou Lula. Os afagos não reanimaram o ministro da Fazenda, que deixou a cerimônia no Planalto com a cara fechada e sem cumprimentar ninguém. "Ele não ficou satisfeito", reconheceu um colaborador do presidente. Para esse assessor, a situação de Palocci no governo permanece "frágil". Diante de um Palocci visivelmente contrariado e de uma Dilma bem mais à vontade, Lula elogiou a competência da equipe da Fazenda. Mas alertou que não existe política econômica do ministro Palocci. "Neste governo tem política econômica do governo, que envolve toda a complexidade do que significa o governo. Se ela for bem, todo mundo ganha com a política econômica. Se ela for mal, todo mundo perde". Lula buscou diminuir o grau da crise gerada pelo debate entre seus ministros. Segundo ele, em seu governo há espaço para que os ministros possam ter pensamentos diferenciados, possam exercitar a vontade de fazer o debate. "Mas existe um momento em que esse debate será transformado em políticas públicas de governo. E quando isso é transformado em políticas públicas de governo, acabou o debate". Lula lembrou que em todos os governos sempre existiu essa disputa entre ministros da área monetarista e desenvolvimentista. "Quando há essa disputa, muita gente fica incomodada, sobretudo aqueles que gostam de ver o circo pegar fogo, gostam de alimentar uma disputa que, na minha opinião, não existe". Ao afirmar que a economia sempre vai gerar debates apaixonados, Lula acrescentou que todos têm que ter responsabilidade para não permitir que "a política eleitoral possa motivar desejo ou qualquer ímpeto do governo de fazer medidas que, teoricamente, pareçam menos impopulares". O presidente reconheceu que todos, inclusive ele, gostariam de ver a economia crescendo 10%, 15%, 20%, com inflação zero, o superávit zero e estradas sendo construídas a cada minuto, a cada segundo. Admitiu que foram necessárias medidas amargas, após a posse, medidas contra as pessoas que o elegeram. "Quando se pega um país do tamanho do Brasil, na situação em que pegamos e colocamos esse país em alto-mar, com tranqüilidade, dizendo a todos os passageiros: olhe, não vai ter tsunami aqui, isso aqui tem comando, tem mestre, contra-mestre, tem toda tripulação que um navio precisa para navegar com tranqüilidade, não foi pouca coisa o que nós conseguimos até agora", comemorou Lula. O presidente disse que 2003 não foi fácil. Que, do ponto de vista da economia, "nós cortamos mais do que cortamos na carne". Mas que essas medidas, ao contrário de transformar o governo num desastre, transformaram num sucesso. "O dado concreto é que poderemos ter tomado uma dose a mais, uma dose a menos. Mas o resultado das coisas que aconteceram neste país estão deixando aqueles que defendem a teoria do quanto pior, melhor, mais preocupados pelos acertos do que pelos erros". Lula enumerou os acertos na política econômica, como o crescimento do PIB e o aparecimentos dos empregos. Afirmou que a prova maior de que os fundamentos estão sólidos é que a economia está crescendo apesar do "denuncismo que nós estamos vivendo no país". O presidente afirmou que se o debate eleitoral não contaminar a economia, "estaremos deixando para quem vier depois de nós, para nossos filhos e nossos netos, um país em desenvolvimento e não um eterno país emergente". Por fim, Lula fez mais um elogio indireto a Palocci, afirmando que "feliz do presidente que tem o ministério que eu tenho, companheiros, em sua grande maioria, experimentando na derrota". Para um líder petista presente à cerimônia, o discurso de Lula foi, claramente, para o público externo. "Se ele quisesse dizer isso aos ministros, bastava que fossem chamados a um canto". Outro aliado acrescentou que, "se não houvesse essa crise, não seria um governo do PT". E completou: "Não adianta nada o Lula falar tudo isso. Mais importante é o que o presidente vai falar com Palocci, reservadamente".