Título: Famílias gastarão R$ 2,2 trilhões
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 04/05/2010, Economia, p. 9

O aumento do emprego e da renda e o crédito farto vão estimular os brasileiros a abrirem o bolso neste ano. Gastos dos lares deverão atingir 63% do PIB. Distrito Federal ser tornará o terceiro polo consumidor do país, superando Belo Horizonte

Com a oferta de emprego em alta e a renda se expandindo há meses, os brasileiros vão consumir, neste ano, R$ 338 bilhões a mais do que em 2009. Ou seja, as famílias deverão injetar na economia, ao fim de dezembro, a incrível cifra de R$ 2,2 trilhões, com crescimentos real (descontada a inflação do período) de quase de 15%. As projeções foram feitas pela consultoria IPC Target, especializada em varejo, que destacou: a classe C, cada vez mais fortalecida, está ávida por satisfazer as necessidades reprimidas por anos a fio. A expectativa é de que o consumo per capita nos centros urbanos, que congrega 83% da população total do país, fique em R$ 12.978,54.

Quase 70% dos R$ 2,2 trilhões serão direcionados, porém, para a compra de produtos básicos, como alimentação, manutenção da casa, transporte, higiene e calçados, deixando em segundo plano as despesas com saúde, educação e cultura. Isso mostra, na avaliação da consultoria, que, mesmo com todas as conquistas dos últimos anos, os lares brasileiros ainda não dispõem de renda suficiente para bancar gastos muito além dos tradicionais. ¿Mas é evidente que já houve uma importante melhora e diversificação no perfil de gastos dos brasileiros¿, disse o economista Marcos Pazzini, autor do estudo da IPC Target.

Ele ressaltou que, com a presença maciça de servidores públicos no mercado de trabalho, beneficiados por excelentes reajustes de salários nos últimos anos, o Distrito Federal se tornará, em 2010, o terceiro maior polo consumidor do Brasil, superando Belo Horizonte. A capital do país, onde as famílias gastarão R$ 47,9 bilhões, só ficará atrás de São Paulo, com um total de consumo de R$ 212,2 bilhões, e do Rio de Janeiro, com R$ 128,9 bilhões (veja quadro nesta página).

Pelas contas de Pazzini, o consumo das famílias fechará o ano representando 63% do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas do país. ¿A situação econômica do Brasil está muito boa. O emprego está em alta, as empresas vêm registrando bom desempenho e a massa de assalariados não está preocupada com o desemprego, assumindo mais riscos ao recorrerem ao crédito para comprar produtos mais caros, como carro¿, relatou.

No seu entender, apesar dos dados positivos, o governo deverá tomar cuidado com o superaquecimento da economia para evitar o retorno da inflação por causa de toda essa demanda. O primeiro passo nesse sentido, por sinal, foi dado pelo Banco Central na semana passada, ao aumentar a taxa básica de juros (Selic) de 8,75% para 9,50% ao ano.

O otimismo captado por Pazzini fez o açougueiro Silvestre Ferreira da Silva, 28 anos, e a esposa dele, a dona de casa Maria Edjane, 26, desembolsarem R$ 1 mil por uma máquina de lavar. Com ganho mensal de R$ 1,8 mil, eles não tiveram medo de comprometer boa parte dos recursos para ter o conforto de uma lavadeira automática. ¿Não foi muito barata. Mas meu salário cresceu nos últimos anos e não acredito que eu possa perder o emprego¿, afirmou Ferreira. Para as irmãs Jéssica e Jaqueliane Coelho, 20 e 17, respectivamente, com salários maiores, será possível dar presentes melhores à mãe neste ano.

Tanto o casal quanto as jovens fazem parte na nova classe C, grande alavanca da economia. Esse grupo, segundo a IPC Target, movimentará R$ 579,6 bilhões em 2010. Com esse volume, só ficará atrás da classe B, que consumirá R$ 973 bilhões em bens e serviços.

Os assalariados não estão preocupados com o desemprego, assumindo mais riscos ao recorrerem a financiamentos para comprar produtos mais caros, como carro¿

Marcos Pazzini, economista da IPC Target

Arrecadação vai crescer

Com o brasileiro gastando mais, o governo terá uma arrecadação maior sobre os R$ 2,2 trilhões a serem desembolsados pelos consumidores em 2010. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), parte significativa desse montante, que movimentará o comércio no Dia das Mães, vai parar nos cofres públicos na forma de impostos. A carga tributária sobre alguns produtos chega a 78% do preço final. Com tamanho avanço do Estado em seu bolso, o trabalhador acaba concentrando as despesas em itens básicos. Para a maioria das famílias, os preços tornam os demais produtos e serviços inacessíveis.

De 18 itens pesquisados como presentes para as mães no domingo, nove apresentaram tributação extremamente elevada. Neles, os impostos representam quase a metade dos preços. Outros ficaram acima desse nível. Os campeões foram perfume importado (78,43%), fragrâncias nacionais (69,13%), forno micro-ondas (59,37) e joias (50,44%). Nem mesmo as tradicionais flores escaparam, com uma carga menor que os líderes da lista, mas ainda assim elevada: 17,71%. (VM)