Título: Operadoras de TV avançam no setor de banda larga
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2005, Empresas &, p. B3

Internet Net e TVA redesenham ofertas e acirram disputa num segmento hoje dominado pelas teles

Está no ar uma guerra de promoções entre as principais operadoras de TV a cabo. A Net abriu seu serviço de banda larga a quem não é assinante dos pacotes de TV, reduziu preços e aumentou a velocidade do acesso à internet. A TVA havia lançado poucas semanas antes ofertas que combinam conexão mais barata e rápida à rede mundial de computadores. Durante muito tempo, fornecer acesso à internet funcionou como complemento ao negócio central das empresas: vender pacotes com programação de TV. Mas, aos poucos, a banda larga está deixando de ser um apêndice e começa a se tornar um negócio realmente importante para as operadoras - repetindo no Brasil um cenário que já é nítido em outros mercados. "Queremos, no mínimo, manter o ritmo de crescimento (na base de internet) que temos apresentado até agora", afirma o diretor de produtos e serviços da Net, Márcio Carvalho, que anunciou na sexta-feira a extensão do serviço a quem não é assinante dos pacotes de TV. Até então, a Net só podia vender banda larga a seus próprios clientes, por limitações regulatórias. A companhia, no entanto, foi à Anatel e adquiriu licenças de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) para as principais regiões onde atua - o que lhe permitiu desvincular as ofertas. A Net, que tem como seus principais acionistas a Globopar e a Embratel, segue um passo que já havia sido dado pela TVA - dona de licenças de SCM. Para seduzir os consumidores, as operadoras estão acelerando - literalmente - suas ofertas. A Net vai migrar as conexões de 300 quilobits por segundo (kbps) para 2 megabits por segundo (Mbps), pelo mesmo preço. Pacotes com velocidades maiores serão elevados para até 8 Mbps. Até o final deste mês, quem assinar o serviço da TVA (grupo Abril) pagará menos e terá direito a pacotes mais rápidos que os convencionais. A promoção é válida para novas adesões, segundo o diretor financeiro da TVA, Carlos Eduardo Malagoni. "Para os clientes atuais que nos procuram, negociamos um novo pacote ou oferecemos outros serviços", explica. Segundo Carvalho, dentro de pouco tempo a Net vai deixar de vender pacotes abaixo da casa dos megabits. Um dos objetivos da companhia - agora que pode vender banda larga e TV separadamente - é oferecer internet a pequenas e médias empresas. A rede da operadora alcança um mercado potencial de mais de 6 milhões de clientes. "Queremos valorizar a venda conjunta de TV e banda larga. Mas as pessoas que se interessarem poderão ficar só com a internet. Isso abre nosso mercado", diz. A TVA também vende os dois serviços separadamente, mas dá benefícios para incentivar a assinatura conjunta, afirma o diretor comercial, Vito Chiarella Neto. Segundo ele, é estratégia da empresa oferecer pacotes com TV, internet e telefonia - segmento em que a TVA começou a atuar neste ano. A guerra de preços e velocidades é a aposta das operadoras de TV para avançar no crescente mercado de banda larga, hoje dominado pelas empresas de telefonia. Poucos dias atrás, a Telefônica, concessionária do Estado de São Paulo, lançou um pacote com 8 Mbps por R$ 199 mensais - mesmos preço e velocidade da versão mais cara e rápida da nova oferta da Net. As três concessionárias de telefonia fixa (Telefônica, Telemar e Brasil Telecom) detêm juntas 2,7 milhões de acessos de banda larga, ou cerca de 85% dos assinantes do país, segundo informações que constam dos balanços do terceiro trimestre. No fim de setembro, a Net contabilizava 302 mil clientes de internet e a TVA, 45 mil. É uma situação bem diferente, por exemplo, da que se nota nos Estados Unidos - onde as operadoras de TV são as maiores provedoras de banda larga e estão se tornando concorrentes importantes das teles também nos serviços de voz, usando a tecnologia de protocolo de internet (IP). O mercado de banda larga é atraente porque é o segmento da telefonia que mais cresce hoje e, dentro de poucos anos, deverá suplantar o número de acessos à internet por linha discada. No Brasil, as empresas de TV por assinatura podem ser muito menores, mas não são menos ameaçadoras para as teles, observa Alexandre Gärtner, da consultoria Voga Advisory. "Elas têm uma base menor, mas detêm os melhores clientes, que representam cerca de 80% da receita (residencial) das teles", diz. O negócio de TV por assinatura no mercado brasileiro não cresceu como se imaginava, o que deixou as empresas numa situação financeira delicada. Agora, a fase mais complexa parece ter ficado para trás. Net e TVA concluíram, no início deste ano, a renegociação de suas dívidas e já fizeram os investimentos mais pesados em implantação de rede. A próxima tacada das operadoras é a telefonia. A TVA lançou em meados deste ano um serviço de voz sobre IP. A Embratel também usará a rede da Net para oferecer telefonia local com base nessa tecnologia, que permite reduzir a quase zero os preços das ligações interurbanas. "De 2006 em diante, veremos o impacto desses serviços", aposta Malagoni.