Título: Briga da Gerdau nos EUA já dura seis meses
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2005, Empresas &, p. B7

Siderurgia Locaute em Beaumont foi decretado em maio e funcionários de outras usinas podem decretar greve

Sem que as negociações avancem, a queda-de-braço entre a Gerdau Ameristeel (subsidiária da Gerdau na América do Norte) e os funcionários da usina de Beaumont (Texas) completará seis meses neste sábado. As discussões entre o sindicato dos metalúrgicos local (filiados à central sindical americana AFL-CIO, com sede em Washington) e representantes da Gerdau já duram quase um ano, quando venceu o atual contrato coletivo dos 260 funcionários de Beaumont. Os principais entraves da pauta são a redução salarial para os funcionários horistas e o corte de alguns benefícios, como planos de saúde. As reuniões para dar fim ao imbróglio seguem tensas, afirmou ao Valor Stanley Gacek, diretor de assuntos internacionais da AFL-CIO. Com o recrudescimento das conversas, a companhia decidiu decretar locaute - em que não permite a entrada do funcionário do local de trabalho - em 26 de maio. Desde então, a fábrica suspendeu sua produção de aços longos. Sem salários, os empregados de Beaumont receberam ajuda de custo governamental nos últimos seis meses e, a partir de agora, passam a contar com uma pequena verba mensal do fundo de greve da AFL-CIO. "Temos condições de oferecer ajuda aos trabalhadores por um longo tempo, até que encontrem solução para o problema. O movimento também conta com o apoio da comunidade local", afirmou Doug Niehouse, diretor-adjunto de estratégias da United Steelworkers (USW). Niehouse não informou quanto já foi gasto do fundo de greve. A Gerdau informou, por e-mail, que "pelo menos 70% da pauta de discussões já está resolvida. Temos esperanças de que um acordo seja acertado o mais breve possível". O grupo refuta as acusações do sindicato de que as negociações caminham lentamente. Entre elas, a de que a Gerdau quer impor uma redução de até 25% no salário dos funcionários - que varia de US$ 16 a US$ 20 por hora. Representantes da Ameristeel afirmam que foi oferecido um aumento médio de 4,5% para os funcionários, além de propor a reformulação da estrutura de cargos e salários da usina. "Essas mudanças permitirão que a unidade permaneça competitiva", informou na nota. Segundo a Gerdau, a paralisação já causou prejuízos de US$ 7 milhões desde maio. A unidade tem capacidade de produção de 500 mil toneladas anuais. Beaumont não é a única pedra no sapato da Ameristeel. Gacek, da AFL-CIO, também afirmou que as negociações seguem de forma "truculenta" em outras unidades da Ameristeel. É o caso de St.Paul (Minnesota) e Wilton (Iowa) que, assim como a usina texana, foram adquiridas em novembro do ano passado pela Gerdau da Cargill e faziam parte da sua controlada North Star Steel. Os acordos trabalhistas dessas duas unidades venceram recentemente. Em Minnesota, afirmou a USW, a Gerdau propôs a redução do pagamento de horas extras e o cancelamento de benefícios como férias e descontos maiores do seguro-saúde. Já em Iowa, foi proposto um corte salarial de US$ 4 por hora de trabalho. A Gerdau também teria se recusado a fazer novos depósitos no fundo de pensão dos funcionários. O caixa previdenciário já teria acumulado um rombo de US$ 1,5 milhão. "Os sindicatos de Iowa e Minnesota estão mobilizados e, caso as conversas ficarem tensas, uma greve pode ser decretada a qualquer momento", disse Niehouse. Por outro lado, a Gerdau afirmou que não pretende decretar locaute nessas duas unidades. A empresa informou também que o locaute em Beaumont foi considerado legal pelas autoridades americanas. A aquisição das quatro usinas que pertenciam à Cargill - Beaumont, St. Paul, Wilton e Calvert City (Kentucky) - custou á Gerdau US$ 266 milhões, além de assunção de dívidas de pouco mais de US$ 30 milhões. O negócio foi considerado, na época, uma verdadeira pechincha, dado que os preços do aço batiam recordes sem precedentes. Cálculos de analistas mostraram que o custo de aquisição foi equivalente a US$ 150 por tonelada, um preço 50% inferior ao que é pago por tonelada adicional de capacidade instalada. No caso de Beaumont, o barato pode acabar saindo caro. Além da longa paralisação, a fábrica texana foi atingida pela fúria do furacão Rita, que assolou parte do Estado do Texas no mês de outubro.