Título: Fracassa nova tentativa de acordo entre países do G-4
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2005, Brasil, p. A4

Comércio exterior Grupo fará outra reunião antes de Hong Kong

Também não foi dessa vez que o G-4, grupo formado pelo Brasil, Estados Unidos, União Européia e Índia, além do Japão, conseguiu aproximar posições sobre um "pacote" para evitar o desastre em Hong Kong, dentro de três semanas. Depois de mais de cinco horas de reunião, os ministros resolveram se encontrar de novo antes de Hong Kong. A idéia do novo encontro é, pelo menos, ter um script sobre o que vai acontecer. "É para evitar o balaio geral de uma conferência e um desastre em praça pública", resumiu um negociador. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, diz ver "alguns espaços para avançar". O problema, porém, é , como dizem fontes, materializar as intenções, já que cada movimento dos parceiros é condicionado. Afora o cenário do desastre total, Amorim vê duas possibilidades em Hong Kong: uma é embolsar o que já foi colocado na mesa. E outra é ir além e fechar, por exemplo, um acordo sobre a data para eliminar subsídios à exportação. "Desastre total é muito pouco provável , porque se for algo minimalista será difícil terminar a Rodada Doha no ano que vem", avalia o ministro brasileiro. "Estamos explorando idéias para materializar em propostas em Hong Kong. Talvez alguns avanços possam ser feitos lá." O problema é que os principais países não se entendem sobre o que deve estar no pacote, nem mesmo nas medidas de desenvolvimento para beneficiar logo países mais pobres. Amorim acredita que, em Hong Kong, talvez a UE possa fazer algum avanço na agricultura, mas não arrisca prever em que pontos isso ocorrerá. Na reunião de ontem também foi apresentada, pelos presidentes dos comitês negociadores, a atual situação das negociações agrícola e industrial, que reflete algumas coincidências e muitas dificuldades. "Com esse documento, a negociação agrícola demora uns dois anos mais", reagiu o embaixador da Argentina na OMC, Alberto Dumond. Ou seja, o que foi apresentado ontem dificilmente levará os países a entendimento até março ou abril do ano que vem, na próxima conferência ministerial, já chamada de Hong Kong 2. Os europeus reclamaram do texto agrícola, porque inclui números de cortes. Na verdade, reúne as várias propostas feitas pelos países e chega a ser uma piada para alguns negociadores, tal a disparidade dos percentuais. Mas Bruxelas insiste que a declaração ministerial de Hong Kong não mencione cifras. Quanto ao texto da negociação industrial, a Argentina já avisou que não aceita uma menção sobre os coeficientes para cortes tarifários. É que o mediador da negociação deixa entender que o coeficiente máximo (ou seja, o menor corte a ser feito) pelos países em desenvolvimento deveria ser 30, o que leva a uma redução tarifária de 50% no Mercosul. "Como podemos aceitar isso, quando os europeus querem cortar 39% apenas na agricultura?", disse Dumont. Enquanto isso, a Suíça, um dos países mais ricos do planeta e campeão mundial dos subsídios agrícolas por habitante, constata na ponta do lápis o custo do protecionismo. A pedido de um jornal de Zurique, economistas do Ministério da a Agricultura suíço calcularam que os preços de alimentos cairão 20% no país se for aprovada, na negociação agrícola na OMC, a proposta do Brasil e do resto do G-20 para cortar as tarifas de importação entre 45% e 75%. Isso daria uma economia de US$ 650, na média por habitante, anualmente. Se o corte tarifário for modesto, como quer a própria Suíça, os preços caem 10% e o consumidor poupa US$ 325 por ano. Os preços agrícolas na Suíça poderiam ser hoje 38% mais baixos, se o país tivesse aderido à União Européia e à reforma da Política Agrícola Comum (PAC). A Suíça é, porém, um dos campeões do protecionismo agrícola mais duro na negociação na OMC, como um dos líderes do G-10 ao lado do Japão, Coréia e Noruega. Os suíços aplicam tarifa de 330% sobre a carne de porco, 273% sobre a carne bovina, 237% sobre o suco de uva. O Japão impõe tarifa de 700% na importação de arroz, porque quer garantir produção local para seu sushi.