Título: Para Lula, pesquisa é péssima notícia
Autor: Rosângela Bit
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2005, Política, p. A6

Há três notícias essencialmente ruins para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta rodada de novembro da pesquisa CNT/Sensus, divulgada ontem. A mais impactante é o índice de rejeição do presidente Lula, que subiu, em comparação à rodada de setembro, a 46,7%, enquanto o seu contraponto, o índice dos que só votariam no presidente Lula e em mais ninguém, caiu a 23,8%. Outra situação preocupante para o presidente é que a avaliação positiva de novembro, comparada à de setembro, caiu de 35,8% para 31,1%, e a avaliação negativa subiu de 24% para 29%. Ou seja, Lula tinha um saldo positivo de 12 pontos (positiva menos negativa) e tem agora um saldo positivo de 2 pontos. A queda foi de 10 pontos, e este saldo é sempre considerado relevante pelos analistas, porque é o único dado que permite determinados ensaios, como, por exemplo, comparar pesquisas de diferentes Institutos e diferentes momentos. Uma terceira informação muito ruim para o presidente é que a série CNT/Sensus é a que lhe dá comparativamente sempre melhor desempenho do que aquele apurado em outros Institutos. Portanto, se houve deterioração nesta pesquisa, imagine-se como não será nas outras. O sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, do MCI, vê neste levantamento divulgado ontem sinais de agravamento das condições para a disputa da reeleição. "A rejeição me chamou a atenção, pois são quase 47% dizendo que não votariam em Lula, é o dobro de rejeição com relação ao eleitor mais "hard" dele, que diz que Lula seria o único candidato em quem votaria. É um dado muito elevado. A partir de 30, é uma rejeição considerável. Após 40% -, digamos que a campanha estivesse começando hoje -, é uma rejeição que dificilmente um candidato conseguiria reverter". A queda de 10 pontos no saldo de avaliação do presidente é uma informação considerada também relevante, levando-se em conta que haverá eleições no ano que vem. Na comparação com Fernando Henrique Cardoso, o outro candidato que concorreu à reeleição, no mesmo período, a situação atual é muito ruim. Em setembro/outubro de 1997, um ano antes da eleição em que seria reeleito, o ex-presidente tinha, no Datafolha, 43% de ótimo e bom (somados dão a avaliação positiva) e 15% de ruim e péssimo (somam-se na avaliação negativa). O saldo positivo era de 28%. Lula tem agora, a um ano da eleição em que disputará a reeleição, 31,1% de avaliação positiva e 29% de negativa, com saldo positivo de 2,1%. "O do Fernando Henrique foi medido em 97, um ano antes da eleição, o que é comparável com a situação de Lula, um presidente que se encaminha para tentar a reeleição no ano que vem". Outra notícia desfavorável à campanha da reeleição são os dados sobre os que consideram que, neste governo, a economia está no rumo certo (35,3%) e não está no rumo certo (52,7%). Considerados o grande trunfo para a reeleição do presidente Lula, os resultados da economia estão recebendo uma expressiva desaprovação dos eleitores neste levantamento CNT/Sensus. "Há uma aparente disjuntiva entre a percepção da sociedade e a percepção do mercado", assinala Lavareda.

É difícil reverter rejeição de 46,7%

Esta é uma questão que deve mobilizar os publicitários da reeleição, e talvez até esteja embutida no comportamento pendular do presidente Lula ao longo da atual crise de governo em torno da política econômica, que deixou em lados opostos os dois ministros mais importantes do governo, Antonio Palocci e Dilma Rousseff. Outras variáveis refletem a deterioração da imagem do presidente e do governo, que acabam provocando, segundo definição de Lavareda, o efeito dominó: caíram os índices dos que percebem como positivos os programas da área social, caiu a avaliação da educação, da saúde, da segurança pública. "E no núcleo dessa queda da avaliação, o que está? Essa percepção da população que a corrupção aumentou, que o presidente está envolvido com os fatos e que a imagem dele foi afetada pela crise", comenta o analista. Este conjunto de informações, segundo Antonio Lavareda, mostra um presidente que é de fato o nome mais forte do seu partido para disputar as eleições no ano que vem, um presidente que se vê forçado a disputar essas eleições para defender o seu governo. "Mas um presidente que tem poucas chances efetivas de se reeleger", vaticina. Processo narcíseo José Dirceu parecia estar fazendo a luta política com recursos jurídicos para ganhar tempo, recuperar sua biografia enquanto tem público e projetar um grande final para o livro que iria escrever sobre a sua vida tão logo terminassem as investigações sobre seu envolvimento no esquema de irregularidades que comprometeu o governo e o PT em denúncias nos últimos seis meses. Ontem, com a nova medida protelatória que conseguiu aprovar na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, pela qual seu processo não pode ir a plenário enquanto houver recurso tramitando na CCJ, passa a existir o risco de se tornar perene o que já era um exagero: o deputado pode decidir recorrer indefinidamente à comissão para que nunca o processo chegue ao plenário. Lula pode não gostar desta jurisprudência firmada ontem pela CCJ, que se traduz também em continuidade do desgaste do presidente, do governo e desmoralização do Congresso, levando a crise para 2006 e para o centro da agenda da campanha. Os eleitores também não. A pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem revela a existência de um percentual alto de entrevistados, 77,3% , que apostam no surgimento de fatos novos na crise. Segundo a interpretação de especialistas, essas pessoas estão esperando, na realidade, um desfecho da crise, e este desfecho inclui punição para os culpados.