Título: Firjan ataca Fiesp para defender Palocci
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2005, Política, p. A6
O destino do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, começa a mexer com o mercado e até rachou as lideranças empresariais. Os boatos que circularam na tarde de ontem de que Palocci seria substituído pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP) deixou operadores nervosos. O medo é que Mercadante, ao substituir Palocci no apagar das luzes do governo Lula, acabe ficando cinco anos no poder, se o presidente for reeleito. "Se for manter o que está aí o mercado não estressa", diz Marcelo Mesquita, estrategista de Brasil do banco suíço UBS. A questão não parece ser tanto de nomes, mas de condução da política econômica em vigor. "Pode ser até a ministra Dilma Rousseff. Se ela operar dentro do sistema que está aí não tem problema", avisa Mesquita. O presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, é ainda mais radical que os representantes dos bancos. "Agora não podemos bagunçar o coreto", alerta. Ele considera que as lideranças empresariais têm que ter responsabilidades grandes no país. "Quando vejo a esquerda poética se juntar com a Fiesp fico horrorizado", declara. O empresário acredita que Palocci não vá sair, mas diz que se sair será muito ruim. "Ele é a cara desse modelo. É ruim ser substituído por qualquer um". E não poupa a Fiesp: "Acho que a Fiesp está dramaticamente errada. A Fiesp não pensou antes de fazer declarações. Por que aumentar o CMN para flexibilizar a inflação? Não creio que o controle via juro impeça país de crescer. Estamos crescendo a 3,5%, 4%. Gostaria de crescer 5% a 6%, mas com a inflação sob controle não dá para crescer mais do que isto". O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que o governo deve gastar o superávit primário excedente em investimentos em infra-estrutura que criem empregos e aumentem a produção. Com essa declaração, Furlan deixou claro que apóia a posição da ministra Dilma Rousseff e afirmou ainda que "o presidente Lula é desenvolvimentista". Furlan, no entanto, fez questão de defender o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Eu não só acho que ele fica, como gostaria que ele ficasse, mas abrisse um pouco mais a mão", disse. Furlan, que deu a entrevista a bordo do avião da Força Aérea Brasileira que voltava da Argélia, onde esteve numa missão com 50 empresários, explicou que praticamente todos os ministros apóiam o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB), mas admitiu que existe uma discussão sobre o que fazer com o excedente. O superávit acumulado no ano está em mais de 6% do PIB. Uma parcela dos ministros defende que o excedente seja utilizado para reduzir a dívida pública, posição de Palocci, enquanto outros ministros, como Dilma, apóiam o gasto em infra-estrutura. "Pela própria nomenclatura de nosso ministério, defendemos o desenvolvimento e os investimentos na indústria, que gerem comércio exterior." Furlan admitiu que Dilma teve uma conversa com cada ministério para intercambiar as dificuldades e resolver o problema de orçamento e burocracia. Mas ele negou saber da existência de um relatório sobre o tema. Segundo ele, sua pasta executou 83% do seu orçamento e pendências estão sendo equacionadas com os ministérios do Planejamento, Fazenda e Casa Civil. "O presidente é desenvolvimentista, se você quer vê-lo vibrar com algo é falar de projetos, investimentos, geração de empregos e expansão da economia, mas ele respeita a prudência." "As grandes discussões que nós temos com o Palocci são sobre a velocidade e não sobre o rumo do país", disse o ministro. Ele garantiu que o relacionamento com Palocci é fraternal e que os resultados alcançados pelo seu ministério são graças ao bom relacionamento entre a Fazenda e o Desenvolvimento, o que, disse, não ocorria no governo anterior. Furlan procurou minimizar a polêmica entre Palocci e Dilma e disse que talvez a ministra não tenha se expressado bem quando, em entrevista, classificou a proposta de ajuste fiscal estudada pelos ministérios do Planejamento e da Fazenda de "rudimentar". Segundo ele, "talvez a ministra Dilma não quisesse dizer rudimentar". Furlan foi além na defesa da ministra e afirmou que ele próprio, muitas vezes, também fala coisas que não deveria. "O próprio presidente Lula pisa na bola várias vezes, porque não foi preparado para usar as palavras do vocabulário. Nem ele, nem eu (referindo-se ao ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, ao seu lado no momento), porque somos engenheiros." Furlan disse que "a pior parte do vendaval já passou, porque ele sempre usa as palavras certas, o que gera uma boa defesa, e também porque tem ido ao encontro dos problemas".