Título: Disputa paulista deixa de ser entrave para Mercadante assumir ministério
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2005, Política, p. A6

A disputa pelo governo de São Paulo deixou de ser um impedimento para o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), substituir o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, caso esta seja a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mercadante trava uma disputa interna pela candidatura com a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, mas o agravamento da crise política nacional colocou a luta regional em segundo plano, segundo afirmam amigos e aliados do senador. A principal razão é que a eleição paulista é mais vinculada ao cenário nacional do que a dos demais Estados. O enfraquecimento da possibilidade de reeleição de Lula diante um rival do PSDB paulista mudou a correlação de forças regional. Hoje, segundo um dos petistas próximo a Mercadante, não há mais favoritismo do PT e a candidatura tucana no Estado, disputada, entre outros, pelo ex-ministro da Educação Paulo Renato e pelo vereador paulistano José Aníbal, ganhou muito cacife. O candidato do PSDB seria impulsionado pelo candidato do partido à Presidência e o do PT, contido pela crise do partido de forma geral e do governo Lula em particular. Sem Mercadante no páreo, Marta Suplicy ficaria como candidata natural ao governo paulista, embora não se descarte dentro do partido a hipótese de uma espécie de volta por cima de Antonio Palocci no próximo ano. Caso o atual ministro consiga derrubar de forma cabal as denúncias de corrupção contra si do tempo em que foi prefeito de Ribeirão Preto, Palocci estaria credenciado para disputar o governo estadual no próximo ano, deslocando Marta para a eleição da Câmara de Deputados. Para Mercadante, a escolha pelo ministério não deverá ser feita com grandes problemas. "O sonho de Mercadante sempre foi o de ser ministro da Fazenda. Para ele, desistir da candidatura ao governo do Estado em troca do cargo é muito fácil", aponta um petista próximo ao senador, segundo o qual, a atitude eqüidistante do presidente na disputa pública entre Palocci e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sobre o esforço fiscal que deve ser feito a longo prazo, seria um sinal de que a troca de Palocci por Mercadante é uma possibilidade concreta. Se a substituição de Palocci for inevitável, Mercadante assumiria o cargo entretanto com estreita margem de manobra para qualquer mudança, segundo seus interlocutores. No ano eleitoral, tenderia a manter diversos elementos da equipe de Palocci, inclusive a atual diretoria do Banco Central, para minimizar o impacto negativo que a substituição teria no mercado financeiro, tida como inevitável, de acordo com estes interlocutores. O senador já expôs publicamente divergências com alguns aspectos da política econômica e, no processo eleitoral, tenderia a aquecer o debate com o PSDB. Após uma eventual reeleição de Lula, os petistas apostam que a flexibilização do regime de metas inflacionárias e da meta de superávit primário, com o aumento dos investimentos em infra-estrutura e obras de saneamento, seriam mais fáceis com a economia sob comando de Mercadante do que de Palocci. Mas como a reeleição de Lula torna-se cada vez mais incerta, Mercadante correria o risco de ver a sua primeira passagem por um cargo executivo reduzida a pouco mais de um ano e marcada pela ortodoxia. Ao longo de sua carreira política, Mercadante jamais constituiu um grupo político do PT sob seu comando, como fez o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e, em muito menor medida, Palocci e Marta. Dentro do partido, conheceu reveses, como a derrota nas prévias para a Prefeitura de São Paulo em 2006. Na montagem da equipe de governo em 2002, diversas forças petistas, sobretudo as ligadas a Dirceu, articularam-se para impedir que o senador ganhasse um lugar na Esplanada dos Ministérios. Nas reformas ministeriais seguintes, seus rivais internos na candidatura ao governo paulista o torpedearam. Respeitado, mas tratado com frieza dentro do PT, Mercadante estabeleceu sólidos vínculos com economistas e empresários. No primeiro grupo, influiu na escolha de Carlos Lessa e Guido Mantega, sucessivamente, para a presidência do BNDES. No empresariado, está próximo do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e de seu primeiro vice, o controlador da CSN, Benjamin Steinbruch. Já na campanha presidencial de 2002, quando disputou e ganhou o Senado, Mercadante atuou para aproximar empresários de Lula. No documentário "Entreatos", de João Moreira Salles, o então candidato ao Senado foi filmado propondo um encontro entre o candidato do PT e o empresário Sérgio Haberfeld, à época vice-presidente da Fiesp e controlador da empresa de embalagens Dixie Toga. (Colaborou Ricardo Balthazar)