Título: Aécio, Itamar e Alencar unem-se contra paulistas
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2005, Política, p. A8

Em almoço num dos mais requisitados restaurantes de Brasília, o governador de Minas, Aécio Neves, reuniu-se ontem com o vice-presidente José Alencar e com o ex-presidente Itamar Franco para enviar um recado aos tucanos de São Paulo: "Ninguém será presidente da República sem passar por Minas Gerais", disse Aécio, frase também repetida por Itamar e José Alencar. O governador mineiro voltou a disputar a indicação do PSDB para concorrer à Presidência da República em 2006, um assunto que os tucanos de São Paulo tentam restringir a uma disputa entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra. A eventual candidatura de Aécio Neves a presidente poderia arrumar o quadro mineiro: José Alencar concorreria ao governo do Estado e Itamar Franco ao Senado. Os três fizeram questão de ressaltar que ainda não há um acerto definitivo entre eles, mas que o objetivo é chegar a um entendimento comum. Havia mais de dois anos que Itamar Franco não se reunia com José Alencar. O encontro foi costurado por Aécio. Por mais que os três tentassem descaracterizar o encontro como algo anti-paulista, essa foi a tônica da conversa. Aécio Neves disse que a sucessão presidencial está sendo "um jogo mal jogado" por ocorrer a mais de um ano da eleição e apontar para uma "suposta" polarização, desde já, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PSDB paulista (leia-se Serra ou Alckmin). "É preciso cuidado para não transferir uma polarização que não existe no Brasil com a mesma intensidade", disse o governador mineiro. Aécio referia-se à polarização entre PT e PSDB existente em São Paulo, que não seria a mesma em nível nacional, na sua visão. Para Aécio, se houvesse um candidato natural à sucessão de Lula, "ele já teria sido indicado há muito tempo". O governador reconhece que há uma tendência por um candidato do PSDB paulista, mas que ela "não é inexorável". Aécio diz que há um acordo interno do PSDB para que a escolha do candidato ocorra apenas em março de 2006 e que acredita que prevalecerá esse entendimento. O governador mineiro, na realidade, esperar melhorar seu desempenho nas pesquisas, nesse período, para se tornar um pretendente efetivo. Foram as pesquisas que tornaram Serra o favorito à indicação tucana, quando o candidato natural do PSDB parecia ser o governador Geraldo Alckmin. Pelas últimas pesquisas, os tucanos passaram a desconfiar que talvez qualquer um dos três possa ser um candidato competitivo contra Lula. O próprio Aécio teve um crescimento expressivo na pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem (ver matéria ao lado). Com Alckmin, Serra e Aécio no páreo, a disputa pela indicação tucana deve esquentar ainda mais. "Aprendemos a respeitar e admirar São Paulo. Jamais iríamos reunir três mineiros contra ninguém", disse José Alencar, que, por sua condição de vice-presidente, foi poupado de exercitar as críticas mais contundentes, papel que parece ter sido reservado a Itamar. O ex-presidente não fez por menos. Para o ex-presidente, é a oposição que está forçando a recandidatura de Lula "por entender que o quadro paulista já está pronto". Ao lado de Alencar, Itamar criticou o "declínio da ética e da cidadania, que são os apanágios de Minas Gerais".