Título: TAP congela empréstimo de US$ 40 milhões
Autor: Janaina Vilella e Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2005, Empresas &, p. B2
Aviação
A TAP já pensa em adiar um empréstimo de US$ 40 milhões para a Varig por conta do clima de incerteza gerado pela demissão do presidente do conselho de administração da aérea brasileira, David Zylbersztajn, e de outros três conselheiros ligados a ele, além do presidente da companhia, Omar Carneiro da Cunha. Esses recursos referem-se a uma operação de antecipação de recebíveis de passagens aéreas compradas por meio do cartão de crédito Visa. O pagamento já estava previsto no acordo que a Varig fez com a TAP para a venda das subsidiárias VarigLog (logística) e VEM (manutenção) por, no mínimo, US$ 62 milhões. A empresa brasileira, inclusive, estava contando com os recursos para o reparo de cerca de 15 aeronaves que estão no chão por falta de peças ou manutenção. Seria a primeira injeção de dinheiro novo na Varig desde o início de seu processo de recuperação judicial. O vice-presidente da TAP, Michael Conolly, disse ao Valor pelo telefone, de Lisboa (Portugal) que a previsão era de os recursos entrarem no caixa da Varig até o dia 30 de novembro, mas, com o desligamento dos executivos, a estatal portuguesa preferiu aguardar uma posição oficial da Varig. "A nossa proposta continua em vigor. Trabalhávamos inicialmente com um prazo de depósito de até três semanas a contar do dia da audiência, em Nova York. Mas depois da decisão de sexta-feira (dia 18) precisamos obviamente ter uma indicação das pessoas que estarão conduzindo o processo do lado da Varig de como querem prosseguir", disse Conolly. Uma fonte que tem acompanhado de perto as negociações da TAP com a Varig disse que até agora nenhum executivo da estatal portuguesa foi procurado pelos novos administradores da empresa brasileira. "A diretoria mudou, o conselho mudou. Essas pessoas (os novos gestores) devem ter a agenda deles. Para fazer o que precisava ser feito não era necessário mudar o comando. É claro que essa decisão vai ter repercussão entre os investidores que estão fazendo negócio com a companhia", disse essa fonte que preferiu não se identificar. Uma outra fonte que segue o processo disse que cada vez parece mais claro que a Fundação Ruben Berta não tinha um "plano B" ao tomar a atitude drástica de mudar toda a administração da Varig. "Imaginou-se que já havia uma costura com alguns credores para assumirem o conselho ou um acerto com investidores. Mas conforme passam os dias, fica claro que não tinham nada pronto." Nem mesmo os nomes dos conselheiros que substituirão a equipe demitida parecem estar certos. A hipótese de abrir espaço para credores, inicialmente manifestada pela Fundação Ruben Berta, parece não estar prosperando, já que a maioria deles não tem interesse. Ontem, o fundo de pensão Aerus divulgou um comunicado afirmando que não teve qualquer participação na indicação de Humberto Rodrigues Filho para a presidência do conselho de administração da Varig ou de Marcelo Bottini para a presidência executiva da aérea. Ambos integram o conselho deliberativo do fundo. Deve ser convocada para a semana de cinco de dezembro a assembléia de acionistas da Varig que escolherá o nome dos novos conselheiros. Hoje acontece uma reunião entre a Varig e o UBS para definir se o banco de investimentos continua ou não como assessor financeiro na recuperação judicial. Apesar das incertezas que se abateram sobre o mercado, uma fonte contou que interessados em comprar as subsidiárias continuam a acessar o "data room" da Varig com dados sobre a venda das subsidiárias. A VarigLog e a VEM estão sendo adquiridas pela TAP por meio da luso-brasileira Aero LB, que tem como sócios a estatal portuguesa, empresas do chinês Stanley Ho e os brasileiros Álvaro Gonçalves e Alberto Camões. E o processo de mudança na Varig ainda não acabou. Depois do presidente, Omar Carneiro da Cunha, ontem foi a vez do vice-presidente de operações da Varig, Miguel Dau, anunciar o desligamento. Com a saída de Dau a companhia brasileira resolveu acabar com as três vice-presidências: a operacional e técnica, financeira e comercial e planejamento. Até o fechamento desta edição, os novos administradores da Varig não se pronunciaram.