Título: Déficit de gás na região abre espaço para volta do carvão
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2005, Empresas &, p. B8

Combustível

Os cenários sobre falta de gás no Cone Sul para atender o crescimento da oferta na região estão se tornando um consenso de mercado com variações apenas quanto ao tamanho do déficit de gás e a data limite para eclosão da crise. O gerente de desenvolvimento de negócios da argentina Techint Gas (TecGas), Carlos Rabuffetti, calcula que a região precisa aumentar em 50 milhões de metros cúbicos de gás/dia a oferta em 2010. A situação mais crítica é a do Chile, mas na Argentina, que tem 50% da matriz energética ligada ao gás, também não são boas as perspectivas, como mostraram os executivos que participaram ontem da primeira edição do Fórum de Gás Brasil. A consultoria Gás Energy calcula que em 2009 serão necessários mais 22 milhões de metros cúbicos/dia de gás no Brasil, adicionais à oferta atual - já considerando a oferta de 12 milhões de metros cúbicos de gás/dia pela Petrobras no bloco BS-400, na bacia de Santos - para atender 100% do consumo de gás por usinas térmicas sem sufocar o crescimento do mercado industrial. Ainda segundo as projeções da Gás Energy, para suprir os 22 milhões de metros cúbicos que faltam será preciso trazer mais 15 milhões da Bolívia e 7 milhões pelo Sul do país, por gasoduto da Transportadora Sul Brasileira de Gás (TSB). A Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas (Abraget) estima em 38 milhões de metros cúbicos o déficit caso seja necessário despachar térmicas a gás para geração elétrica. O presidente da entidade, Xisto Vieira, ressalta que o uso de carvão como opção ao gás precisa ser analisado considerando a necessidade de construir novas linhas de transmissão Para o executivo da TecGas, a região vive um "paradoxo". Isso porque durante muito tempo se procurou gás no Cone Sul, quando não havia sequer mercado. Agora, o gás ganhou espaço, o mercado cresceu 21% ao ano nos últimos cinco anos e existe reserva na Bolívia capaz de atender os vizinhos. Mesmo assim, Rabuffetti acha que é preciso pensar na utilização do carvão, poluente e de custo superior, como fonte energética. "O paradoxo é retornar ao carvão quando se demorou tanto para desenvolver o mercado na região e quando a Bolívia tem gás", afirma Rabuffetti. Ele lembra que a Argentina não está investindo na exploração, a Bolívia elevou os impostos sobre a atividade de exploração e produção aumentando os custos das companhias e agora o novo governo precisa negociar com investidores. Sobre o Brasil, ele diz que até o momento o governo tem adotado uma postura passiva, de "só observar" a situação. O presidente da térmica Eletrobolt, Luis Fernando Gutman, fez uma defesa da Petrobras questionando a regulação da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que segundo ele fez uma "medida provisória" regulamentando a lei do gás do senador Tourinho, que na verdade ainda é um projeto de lei. A ANP divulgou três portarias definindo a regulação sobre transporte de gás onde estabelece prazo de exclusividade de seis anos para o dono do gasoduto; também define a construção por concessão e não mais por autorização; além de prever o acesso de terceiros aos gasodutos e às unidades de processamento de gás natural existentes.