Título: Bancos médios recebem oferta maior de crédito à exportação
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2005, Finanças, p. C1

Trade Finance Recursos para linhas dos menores crescem pela primeira vez em três anos

Os bancos médios brasileiros receberam durante a reunião da Federação Latino-Americana de Bancos (Felaban) em Miami uma enxurrada de ofertas de linhas de crédito à exportação. Apesar da recuperação gradual da economia brasileira desde a crise de 2002, foi a primeira reunião em três anos com melhora do cenário para bancos menores. "No ano passado a reunião aconteceu logo depois da quebra do Banco Santos, e isso afetou muito o mercado", conta o superintendente internacional do Banco Mercantil do Brasil (BMB), Luiz Felipe Borlido. Desta vez, em apenas dois dias o BMB fechou quatro novas linhas de crédito com bancos internacionais - UBS, Commerzbank, National City (banco regional americano da área de Cleveland) e American Express. "Muitos bancos internacionais estão procurando diversificar com bancos médios porque emprestar para os grandes está rendendo muito pouco, Libor mais 0,1%", diz o diretor de trade finance do Banif, Rosmar Vidigal, que também recebeu boas ofertas de linhas internacionais. Os pequenos e médios pagam entre Libor mais 1% e Libor mais 1,5%. Segundo Borlido, a liquidez continua muito alta e os bancos estão procurando mais rentabilidade. Um dos instrumentos que está "destravando" o crédito à exportação para bancos considerados de maior risco pelo mercado internacional é uma nova linha de garantia de crédito lançada este ano pela International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial. O Global Trade Finance Program (GTFP) tem um formato semelhante ao contrato fechado pelo IFC com os bancos Itaú, Unibanco e Bradesco no auge da crise de financiamento ao Brasil em 2002, quando as linhas de crédito internacionais secaram. A IFC, com risco de crédito triplo A, oferece garantias no valor total de até US$ 500 milhões contra risco comercial (risco de quebra do banco ou do exportador), risco de não pagamento da carta de crédito e cobertura do risco-país. Para bens de capital, a linha permite financiamento de até três anos, explicou a diretora do Departamento de Mercados Financeiros Globais da IFC, Bonnie Galat. Por enquanto, o crédito foi mais usado por exportadores da Nigéria e Paquistão (desde setembro foram fechadas 20 operações), mas Galant espera que em breve a utilização cresça também na América Latina e Caribe. "Com essa linha da IFC cobrindo o risco comercial já recebemos ofertas de crédito com prazos de dois ou três anos. Em operações diretas sem cobertura da IFC, ainda há restrição ao prazo de um ano", conta o superintendente do Mercantil do Brasil. O Brasil já é o terceiro maior exportador para a China, concentrado em commodities minerais ou agrícolas. Mas há algumas precauções específicas que devem ser tomadas para reduzir o risco de vendas para este mercado, alerta o diretor global de trade do Bank of New York, Michael McDonough. Praticamente não se usa carta de crédito em operações com a China, o que acrescenta insegurança às operações. O exportador também tem de se precaver para evitar o cancelamento de operações em caso de queda do preço internacional da commodity embarcada. Isso ocorreu há alguns meses com embarques de soja brasileira. O impacto da quebra do Banco Santos, entretanto, não foi inteiramente superado pelos bancos médios, especialmente no mercado interno. Segundo Álvaro Vidigal, do Banco Paulista, "não vale a pena sair procurando depositante para expandir. O que tenho feito é fazer cessão de crédito para os bancos maiores e reciclar a carteira". A assembléia da Felaban discutiu na agenda oficial alguns temas gerais, como remessas de imigrantes latino-americanos morando nos EUA, possibilidade de investimento no mercado financeiro asiático (especialmente China). Mas para os executivos presentes, as reuniões paralelas entre bancos são mais importantes para negociar linhas de crédito e fechar negócios.