Título: Bolsa oscila ao sabor dos ventos políticos
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2005, Finanças, p. C2

A Bolsa de Valores de São Paulo deverá ter desempenho mais fraco a partir de agora, com oscilações fortes ao sabor do cenário político interno. Essa é a visão de Luiz Antonio Vaz das Neves, diretor-técnico da Planner Corretora de Valores. "Ninguém vende com medo de perder, mas os preços nos níveis em que estão não são convidativos para a compra", acredita ele. "A Bolsa foi bem demais neste ano em relação aos fundamentos econômicos do país e à perspectiva de crescimento da economia", conta, para acrescentar que os lucros pararam de crescer nos setores chaves de mineração e siderurgia. No ano, a Bolsa acumula alta de nada menos do que 41,74% em dólar e 20,21% em reais. Apesar de muitos brasileiros tentarem montar posições vendidas, o fluxo falou mais forte: o saldo positivo da compra de estrangeiros acumula R$ 3,5 bilhões até o dia 10 de novembro. Neste mês, o movimento de entradas começa a se enfraquecer (saídas de R$ 173 milhões até o dia 10) e, com menor sustentação do estrangeiro, a volatilidade pode crescer. Ontem, por exemplo, a Bolsa chegou a cair 2,05%, com a expectativa de saída do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pela manhã, mas acabou em alta de 1,22%, após as declarações do ministro na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, que sinalizaram que ele fica. Em dólar, Bolsa ficou estável, em ligeira queda de 0,27% no dia. Para Vaz das Neves, o governo Lula está em um dilema, pois precisa mudar sua política econômica para tentar mostrar pelo menos alguma diferenciação em relação ao governo FHC. "E não dá para mudar a política econômica sem mudar o ministro", acredita ele. Vários participantes do mercado colocaram a hipótese de Palocci deixar o governo para concorrer ao governo do Estado de São Paulo. Para Neves, um outro nome na Fazenda iria puxar os juros com mais força para baixo o que, apesar do estresse inicial, poderia até trazer mais gás para a Bolsa, acredita. Ontem, os mercados futuros continuaram a apostar em uma queda mais provável de 0,5 ponto percentual, para 18,5% ao ano, nos juros básicos Selic na reunião do Comitê de Política Monetária que termina hoje. Excepcionalmente, os contratos mais negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros foram os para vencimento em dezembro, que passaram a projetar as taxas de 18,53% ao ano, na comparação com os 18,57% de anteontem. Mas, há espaço para um corte maior de taxas, na visão do mercado, e uma redução de 0,75 ponto percentual é até esperada por alguns. O sai-não-sai de Palocci afetou os contratos mais longos, com os juros do vencimento em janeiro de 2007 chegando a subir, mas terminando o dia a 17% ao ano, com relação aos 17,02% de anteontem.

Mercado espera corte de 0,5 ponto nos juros

O Banco Central atuou no mercado à vista e também comprou dólar no mercado futuro, por meio de US$ 500 milhões de swaps reversos. Conseguiu segurar a valorização do real - o dólar subiu 1,08%, para R$ 2,2470. No mercado internacional, os rumores sobre Palocci impactaram o risco-Brasil, que subiu 0,87%, para 348 pontos básicos, mas foram insuficientes para fazer o título brasileiro mais negociado, o Global 40, ter queda de preços - a alta foi de 0,25%, para 123,188% do valor de face, um novo recorde.