Título: PIB perde fôlego e deve crescer menos de 3% em 2005
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2005, Brasil, p. A4

Conjuntura Juros altos, câmbio valorizado e crise política levam à desaceleração da economia

Com o péssimo desempenho da indústria no terceiro trimestre e os sinais desalentadores em outubro, algumas consultorias e bancos reduziram suas previsões para o crescimento neste ano, apostando numa expansão abaixo de 3%. MCM Consultores e Tendências projetam avanço de 2,8%, enquanto o Credit Suisse First Boston (CSFB) trabalha com um número ainda mais baixo, de 2,5%. Os juros elevadíssimos, o câmbio valorizado e os efeitos da crise política sobre a confiança de consumidores e empresários são apontados como os grandes responsáveis pela desaceleração econômica. Para a MCM, o fraco 2005 vai impactar o próximo ano: a estimativa para o PIB de 2006 caiu de 3,3% para 3%. Os números da produção industrial de setembro já haviam confirmado um desempenho muito ruim da economia no terceiro trimestre, indicando uma queda do PIB na casa de 0,5% em relação ao segundo, na série livre de influências sazonais, segundo o economista-chefe da MCM, Celso Toledo. Para ele, a política monetária rigorosa é a grande culpada por esse quadro. Os juros reais oscilam na casa de 13% há vários meses. Além de encarecer o crédito e levar ao adiamento de decisões de consumo, os juros altos acentuaram a valorização do câmbio, desestimulando exportações e incentivando importações. "O BC elevou os juros mais do que era necessário." Para piorar as coisas, indicadores importantes referentes a outubro mostraram que a atividade continuou a perder fôlego, deixando claro que a esperada recuperação no quarto trimestre não começou no mês passado. Pelas contas do CSFB, a produção de veículos em outubro recuou 1,1% ante setembro, a expedição de papelão ondulado, 1,8%, e o fluxo de veículos, 0,6%. "Com isso, a produção industrial em outubro deve ter caído entre 0,5% e 1% ante o mês anterior", diz o economista-chefe do CSFB, Nílson Teixeira. Com esse desempenho sofrível no mês passado, ficou evidente para os economistas que o quarto trimestre não deve ser suficiente para garantir uma expansão de 3%. Se o IBGE confirmar na semana que vem um recuo do PIB de 0,5% no terceiro trimestre ante o segundo, seria necessário um crescimento de nada menos de 1,9% no fim do ano para o Brasil crescer 3% em 2005, diz Toledo. "Essa é uma taxa muito forte, especialmente levando em conta o desempenho fraco de outubro", afirma ele, projetando um crescimento de 1,1%. Desse modo, ele rebaixou sua previsão para o ano de 3% para 2,8%. O CSFB promoveu uma revisão ainda mais drástica, por vislumbrar um quarto trimestre muito fraco. Na semana passada, o banco havia reduzido a estimativa de 3,4% para 2,7% e a rebaixou ontem para 2,5%, depois de uma avaliação mais detalhada dos indicadores de outubro. Teixeira acredita que o PIB vai crescer apenas 0,5% no quarto trimestre, mesmo que haja uma forte recuperação em novembro e dezembro. Para ele, a política monetária é um dos principais fatores que levaram à desaceleração da indústria no segundo semestre deste ano, afetando consumo e investimento. O dólar barato também teve algum peso, ao reduzir o ritmo de crescimento das exportações de manufaturados. O economista Guilherme Maia, da Tendências, ressalta ainda a redução de estoques excessivos, formados no segundo trimestre a partir de uma superestimação da demanda nos meses seguintes. Com a crise política, lembra ele, a confiança de consumidores e empresários foi afetada. Nesse cenário, ele cortou sua previsão de PIB em 2005 de 3,2% para 2,8%, amparado também no mau resultado da indústria em outubro. A perda de dinamismo em 2005 pode cobrar algum preço também no ano que vem, advertem os analistas. Toledo avalia que, se confirmadas suas previsões para o PIB no terceiro e no quarto trimestre, o "carregamento estatístico" para 2006 será baixo, de apenas 1%. Isso significa que, se a economia não crescer nada em relação ao nível do fim deste ano, a expansão do PIB em 2006 será de apenas 1%. Não por acaso, ele reviu suas projeções. Para o CSFB, o "carregamento" deve ser de apenas 0,5%. Juros mais baixos, massa salarial real em alta e crédito ainda em expansão devem ajudar a economia no ano que vem, mas o cenário também não é mais tão agradável como parecia há algumas semanas.