Título: Redução no consumo ajudou auto-suficiência
Autor: Chico Santos e Claudia Schuffner
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2005, Brasil, p. A5
Petróleo Consumo de derivados caiu 0,9% ao ano entre 2000 e 2004, mas produção cresceu de forma constante
A auto-suficiência brasileira na produção de petróleo, que será atingida de forma sustentada no primeiro trimestre de 2006 - segundo a Petrobras anunciou ontem -, contou com a decisiva colaboração da queda do consumo. E ela será alcançada a tempo de se tornar um dos motes da provável campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presente ao anúncio de ontem. Segundo dados elaborados pelo economista Adriano Pires Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), o consumo doméstico dos principais derivados de petróleo -gasolina tipo A, óleo diesel, óleo combustível, querosene de aviação, nafta petroquímica, gás de cozinha (GLP) e querosene de iluminação- apresentou queda de 0,9% ao ano entre 2000 a 2004, após ter crescido 4,9% ao ano de 1990 a 1999. De acordo com as projeções de Rodrigues, caso o crescimento do consumo tivesse continuado no ritmo dos anos 90, o nível atual de 1,78 milhão de barris/dia estaria em 2,3 milhões e a auto-suficiência só seria alcançada em 2010. Isto sem deixar de levar em conta o esforço de aumento da produção. Ela cresceu 6,2% ao ano de 1990 a 2004. As principais razões para a queda do consumo, segundo o especialista, foram o fraco desempenho da economia do país após o ano 2000 (exceto em 2004) e a substituição de derivados de petróleo por outros combustíveis. A gasolina foi substituída por álcool e pelo gás natural veicular (GNV) e o óleo combustível, pelo gás natural. Mas Rodrigues ressalta que, mesmo não tendo um estudo detalhado sobre o papel de cada um dos fatores, é possível afirmar que o desempenho econômico do país foi o fator preponderante. A análise de Rodrigues é a seguinte: a substituição da gasolina por álcool é um fenômeno recente, com a chegada ao mercado dos veículos bicombustíveis. O GNV ainda não é relevante em relação ao tamanho da frota de automóveis do país. Sobra a troca, feita por grande parte das indústrias, do óleo combustível pelo gás natural na movimentação das suas máquinas, especialmente após a construção do gasoduto Bolívia-Brasil, inaugurado em fevereiro de 1999. Esse movimento, contudo, não seria capaz de puxar o consumo geral para baixo em tempo de bom desempenho econômico. Segundo os números do CBIE, o consumo dos principais derivados de petróleo no Brasil era de 1,19 milhão de barris/dia em 1990 e alcançou 1,85 milhão em 2001, caindo depois para 1,80 milhão em 2002 e para 1,73 milhão no ano seguinte. Em 2004, com a economia em recuperação, o consumo passou a 1,78 milhão de barris/dia. Rodrigues explicou que os seus dados sobre o consumo diferem dos que estão publicados no site da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o órgão regulador do setor petróleo no país, basicamente porque lá a gasolina incluída é a C, já misturada com álcool anidro (25%). Os números da ANP, fornecidos pelas distribuidoras, são sujeitos a atualizações. Se o consumo não manteve o ritmo de crescimento, a produção deve quase triplicar até o final deste ano em relação a 1990, quando era de 654 mil barris/dia (petróleo e líquido de gás natural). De 1990 a 2004 os únicos momentos de queda foram 1991 e no ano passado. A Petrobras vai encerrar este ano produzindo, na ponta, 1,85 milhão de barris de petróleo por dia, o que tecnicamente já significa que o país se aproxima da auto-suficiência. No entanto, a estatal só vai declarar sua independência quando ela for sustentável. Isso porque a produção média de 2005 será de 1,7 milhão de barris/dia na média anual. A entrada em produção da plataforma P-50, batizada ontem por Lula, será a plataforma da Petrobras com maior capacidade instalada até agora. Ela é considerada um marco pela companhia porque ao produzir sozinha 180 mil barris/dia - o que está previsto para o primeiro trimestre de 2006 -, ela permitirá que, tecnicamente, o país produza petróleo em volume maior que seu consumo. Mas o país continuará importando o combustível, em função do tipo de óleo que há no país, mas pesado e de processamento mais caro. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, informou ontem que a estatal trabalha com a meta de produzir 1,910 milhão de barris/dia, em média, ao longo do próximo ano. Além da P-50, que é o maior projeto individual, a Petrobras conta ainda com o início da produção, em 2006, das plataformas Capixaba, Piranema, e P-47. Mas o próprio Gabrielli frisou, no discurso na cerimônia de batismo do equipamento, ontem, que a nova produção não vai se somar à atual, já que alguns campos estão com produção declinante. Mas ressaltou que a auto-suficiência trará ao Brasil mais segurança ao abastecimento, e tranqüilidade para enfrentar crises internacionais relacionadas com o petróleo.