Título: Cúpulas do PT e PSDB decidem apoiar a manutenção da verticalização
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2005, Política, p. A10

O clima tenso e imprevisível impediu a votação ontem, no plenário da Câmara, da proposta de emenda constitucional (PEC) que mais terá desdobramentos na eleição presidencial de 2006: a que determina o fim da verticalização, ou seja, a regra que obriga o partido a repetir, nos Estados, a aliança nacional. A votação era dada como certa, mas o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) de liminar a mandado de segurança impetrado pelo ex-ministro José Dirceu (PT-SP) azedou o clima na Casa. Diante da obstrução do PFL e do quórum baixo, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, transferiu a votação para terça-feira, já que hoje a pauta volta a ser trancada por medida provisória. Ontem só foi possível votar o projeto de resolução que coibirá o troca-troca partidário. A partir de agora, a distribuição dos partidos nas presidências de comissões da Casa ocorrerá conforme a bancada da data da diplomação, ou seja, do dia da posse, o que torna inócuo o troca-troca. Os blocos partidários formados até a data da posse só terão validade por dois anos. Os parlamentares apostam que, na próxima semana, haverá número suficiente para derrubar a verticalização, a despeito da postura contrária das cúpulas do PSDB e PT. Praticamente todos os partidos estão divididos entre manter ou acabar com a verticalização. Tucanos e petistas trabalharam ontem pela manutenção da regra por considerarem que levará à polarização da disputa e fortalecerá as duas legendas e seus respectivos candidatos, provavelmente Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra. O que inviabilizou a votação foi mais um capítulo do longo processo de cassação do deputado José Dirceu. O empate por cinco a cinco no STF da liminar favorável ao petista embolou o cenário (ver matéria na página 12). Em resposta ao que consideraram mais uma postergação da cassação de Dirceu, o PFL ameaçou obstruir a votação da PEC da verticalização. O PSDB também reagiu negativamente e fez duras críticas ao STF, mas decidiu, ao final, permanecer no plenário. O dia começou com os líderes políticos apostando no fim da verticalização para o pleito de 2006. No fim da tarde de ontem, os ventos sopraram em direção oposta. Como a votação foi adiada, haverá tempo para caciques regionais trabalharem nas bancadas pelo fim da regra. Ao longo do dia de ontem houve um trabalho intenso dos dirigentes partidários do PT e PSDB para convencer as bancadas. O PT fechou questão na bancada, e encaminharia pela manutenção da regra. "Consideramos que a verticalização organiza melhor as coligações com bases programáticas, o que nos aproxima de aliados históricos", opinou o líder, Henrique Fontana (RS). O PSDB decidiu liberar a bancada, mas o encaminhamento do líder seria também favorável à verticalização. "Há divergências na bancada, mas acho que o sistema verticalizado dá mais coerência aos partidos e diminui a capacidade de negociações num grande balcão", disse o líder tucano, Alberto Goldman (SP). O governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra são abertamente favoráveis à manutenção da verticalização. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, é contra. Pela lógica da cúpula tucana, a manutenção da verticalização forçaria o PMDB a tomar uma posição pela candidatura própria, o que prejudicaria a reeleição de Lula. "Quem quer a aliança com o PMDB nos Estados, vota para acabar com a verticalização. Quem quer dar prioridade para a questão nacional vai votar para manter. Para PSDB e PT, que têm candidatos definidos, a verticalização é boa", explicou um dirigente do PSDB. No PT, a avaliação foi mais programática que pragmática, definiu o deputado Maurício Rands (PT-PE), integrante da coordenação política da bancada. "A manutenção da regra ajuda a depurar o sistema político, dá mais coerência às alianças", argumentou. Esse grupo petista considera que foi um equívoco o governo não ter trabalhado a aliança com parceiros históricos e o PMDB. Os aliados históricos, no entanto, batalhavam pelo fim da verticalização, preocupados com a cláusula de barreira que enfrentarão em 2006. Os pequenos partidos, que não alcançarem 5% dos votos em pelo menos cinco Estados, vão perder a representação na Câmara. Como será uma eleição difícil e decisiva, partidos como PCdoB, PSB, PDT e PPS querem o fim do engessamento para fazer alianças livremente nos Estados. "A tese puro-sangue defendida por parte do PT vai arrebentar a reeleição do Lula. Nem os aliados históricos ficarão oficialmente com ele", definiu um integrante do PCdoB. "Para o governo Lula e para a reeleição do presidente, a queda da verticalização é o melhor negócio do mundo, porque vai atrair todos os pequenos partidos. Se não cair a regra, o PSB, por exemplo, pode não fechar com Lula", alertou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).