Título: Andinos culpam os EUA por fracasso de tratado comercial
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2005, Internacional, p. A13

Impasse Principal aliado americano na América do Sul, presidente Uribe, da Colômbia, sai derrotado

As negociações do tratado de livre comércio entre os EUA e Colômbia, Equador e Peru chegaram ao fim com críticas dos países andinos à inflexibilidade dos americanos. O fracasso na tentativa de se chegar a um acordo é uma derrota pessoal para o presidente colombiano, Álvaro Uribe, o principal aliado dos EUA na América do Sul. O tratado com os países andinos era uma forma de o governo americano pressionar o Mercosul, e particularmente o Brasil, para voltar a negociar a Área de Livre Comércio das Américas. Ontem o Peru anunciou que as negociações com os EUA para a remoção de barreiras ao comércio haviam sido interrompidas. Colômbia e Equador já haviam feito o mesmo na noite de terça, apontando como causa para o insucesso as exigências americanas de que os países fortalecessem as proteções às patentes e que permitissem um forte aumento das importações de produtos agrícolas dos EUA. O ministro do Comércio Exterior do Peru, Alfredo Ferrero, um defensor do acordo, afirmou que, apesar dos avanços nas discussões, ainda não há "condições de se chegar a um acordo equilibrado que contemple os interesses do Peru". As declarações do presidente colombiano, que pede a manutenção das negociações, foram semelhantes. "Necessitamos um tratado que nos facilite o acesso ao mercado dos Estados Unidos, mas tem que ser eqüitativo", disse Uribe. Já o empresariado de seu país fez críticas contundentes aos americanos. "Isso demonstra uma vez mais a falta de vontade dos EUA para fazer uma boa negociação", afirmou Jorge Bedoya, dirigente do setor avícola. "Seria muito fácil avançar [nas negociações] se os EUA compreendessem que não podem ficar com tudo e que precisam dividir", disse Rafael Mejía, presidente da Sociedade dos Agricultores Colombianos. Segundo o dirigente, chegou o momento de os EUA mostrarem "se são um aliado ou se a Colômbia precisa buscar aliados em outra parte do mundo". O presidente Uribe esperava usar um acordo favorável como uma conquista de seu governo na campanha para as eleições presidenciais de maio, na qual ele tentará se reeleger. Mas, à medida que foi ficando claro que o acordo não traria os benefícios esperados, a opinião pública colombiana se voltou contra o tratado. Neena Moorjani, porta-voz do escritório do representante comercial dos EUA, disse que agora as conversas serão feitas separadamente com cada país. "As negociações não vão terminar", analisa Peter Hakim, presidente do Diálogo Inter-Americano, centro de estudos de Washington, nos EUA. Muitos produtos de Colômbia, Peru e Equador têm acesso livre de impostos ao mercado americano até o fim de 2006 por conta de um acordo para apoiar os agricultores sul-americanos e assim diminuir a produção de drogas na região. A manutenção desse benefício depende de uma improvável prorrogação pelo Congresso americano ou da assinatura do tratado de livre comércio. Produtores sul-americanos temem que, com o acordo, a fortemente subsidiada agricultura dos EUA invada seus países, repetindo o que aconteceu no México com o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte).