Título: Intervenções do BC levam reservas a US$ 50 bilhões
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2005, Finanças, p. C3

Câmbio Só em novembro, Banco Central já adquiriu US$ 2,65 bilhões

As reservas internacionais liquidas (excluem empréstimos do FMI) devem chegar a US$ 50 bilhões em alguns dias, mantido o atual ritmo de compra de moeda estrangeira no mercado de câmbio pelo Banco Central. Anteontem, atingiram o volume de US$ 49,8 bilhões, segundo estimativa a partir das estatísticas sobre as reservas brutas. Nesse montante, não estão incluídos os dólares adquiridos nos leilões de câmbio realizados nos dois últimos dias, que devem ser liquidados hoje e amanhã. Neste mês, até o dia 16, as intervenções do BC no câmbio somam US$ 2,65 bilhões, segundo cálculos feitos a partir das emissões de reais para a compra de dólares. O montante de reservas líquidas acumulado até agora já é o mais elevado desde 1998, quando o Brasil voltou a tomar empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI). O recorde anterior é de outubro de 1998 (US$ 41,722 bilhões), época em que ainda o país ainda adotava o regime de câmbio fixo e tinha necessidade de manter um maior volume de reservas. O rápido crescimento das reservas tem estimulado entre analistas econômicos o debate sobre até quando valerá a pena o país acumular dólares. Foi exatamente quando as reservas batiam a marca de US$ 50 bilhões que o México anunciou, em 2003, um programa para reduzir o acúmulo de moeda estrangeira. Em documento divulgado na época, o BC mexicano argumentou que os custos de acúmulo de reservas eram elevados, e os benefícios, cada vez menos significativos. Desde o início do governo Lula, as reservas internacionais líquidas aumentaram em US$ 35,6 bilhões (em dezembro de 2002, somavam apenas US$ 14,2 bilhões, após brutal redução na crise das eleições presidenciais). A emissão de reais pelo BC para comprar moeda estrangeira somou, nesses quase três anos, R$ 56,085 bilhões - enxugada pela emissão de títulos públicos, o que representa um custo fiscal. Parte dos analistas econômicos defende que o Brasil ainda pode colher benefícios relevantes com o acúmulo de reservas. O CSFB divulgou um relatório em que defende um patamar de US$ 70 bilhões, montante que permitiria ao país absorver choques externos sem fazer elevações muito significativas na taxa básica de juros. Economistas reconhecem que é difícil quantificar as necessidades de moeda em um eventual choque externo. Mas é possível ter uma idéia aproximada a partir da mais recente turbulência, ocorrida em 2002. Segundo cálculos do BC, naquele período houve uma perda de US$ 28 bilhões no balanço de pagamentos, tanto pelo corte de financiamentos quanto pela fuga de dólares para formar ativos no exterior. Naquele ano, as venda de dólares pela autoridade monetária no mercado de câmbio somaram US$ 9 bilhões, e a maior parte do ajuste externo ocorreu por meio da desvalorização do câmbio, que levou a uma redução de US$ 15 bilhões no déficit em conta corrente. Hoje, porém, as necessidades de recursos externos é quase a metade de 2002. Naquele ano, a soma do resultado em transações correntes com as amortizações da dívida externa era prevista em US$ 47,7 bilhões; para 2006, os compromissos são projetados em US$ 24,4 bilhões. Ou seja: seria possível pagar todos os compromissos líquidos previstos no ano lançando mão de apenas metade das reservas líquidas.