Título: Copom corta taxa Selic em meio ponto
Autor: Alex Ribeiro, Cristiane Perini Lucchesi e Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2005, Finanças, p. C8

Política Monetária BC mantém conservadorismo e confirma expectativa do mercado; empresários reclamam

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu em 0,5 ponto percentual, de 19% para 18,5% ao ano, os juros básicos da economia. Foi o terceiro corte seguido na taxa Selic, que, desde setembro, acumula queda de 1,25 ponto percentual. É a taxa mais baixa desde fevereiro, quando os juros básicos subiram de 18,25% para 18,75%. A decisão ficou dentro da expectativa do mercado financeiro, que, em sua maioria, considerava que havia espaço para cortes mais profundos, mas apostava na manutenção da postura conservadora. O comunicado divulgado após a reunião não dá pistas sobre a trajetória futura da taxa: "Dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária iniciado na reunião de setembro de 2005, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 18,5% ao ano, sem viés". As razões da decisão só serão conhecidas com detalhes na semana que vem, com a divulgação da ata do encontro. Observadores econômicos já previam que o IPCA relativamente alto registrado em outubro, de 0,75%, iria levar o Copom a um corte mais tímido da taxa. A aceleração da inflação se deveu exclusivamente a fatores pontuais, que não deverão ser revertidos nos períodos seguintes. O Copom tem mantido a tradição de cautela sempre que ocorre aumentos pontuais de preços, para evitar que ruídos de curto prazo contaminem as expectativas de inflação para prazos longos. Na visão de um grupo relativamente grande de analistas, havia espaço para um afrouxamento maior porque as expectativas de inflação para 2006 - período relevante para as decisões de política monetária - estão muito próximas da meta anual, fixada em 4,5%. O mercado estima inflação de 4,55% para 2006, segundo a própria pesquisa Focus feita pelo BC. As perspectivas de cumprimento das metas, segundo esses analistas, teriam se tornado ainda mais favoráveis com as estatísticas recentes de atividade econômica, que ficou mais fraca do que o esperado, minimizando o risco de descompasso entre oferta e a demanda na economia. A forte valorização do real, puxada pela política de juros altos do BC, também reduziria os riscos de descumprimento da meta. Segundo analista que preferiu não se identificar, em meio à crise política e à discussão do superávit fiscal primário no governo, não era de se esperar que um BC conservador surpreendesse com um corte maior na Selic. A redução mais agressiva poderia ter impacto negativo ao sinalizar um BC que não resiste às pressões políticas. Para Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments, a decisão mostra que o Banco Central não está tão preocupado com o nível baixo da atividade econômica quanto o mercado. Segundo ela, a chance de queda maior nos juros básicos na próxima reunião do Copom, em dezembro, existe. Tudo vai depender dos núcleos da inflação corrente e dos novos números sobre a atividade econômica, como a produção industrial de outubro e os indicadores antecedentes da produção industrial de novembro. "Os índices de inflação corrente devem continuar pressionados pelos combustíveis, alimentos e serviços, mas já em dezembro ou em janeiro a situação deve mudar, pois a demanda não está forte", afirma. Marcelo Salomon, economista chefe do Unibanco, diz que os números do PIB que serão divulgados na próxima terça-feira serão cruciais para a definição dos rumos da Selic para a próxima reunião de dezembro. Miguel Daoud, da Global Financial Adviser, acredita que o BC foi cauteloso também para ver o impacto que um possível aumento nos gastos públicos pode ter sobre a demanda e a inflação. "A decisão do governo de gastar mais pode colocar em risco a redução de juros", diz ele. Já os empresários acham que o corte deveria ter sido maior. "As evidências atuais de queda do nível de atividade industrial recomendariam uma redução mais drástica dos juros", destacou em uma nota, Boris Tabacof, diretor do Ciesp, que defendia o corte de um ponto percentual. Para Paulo Skaf, presidente da Fiesp, a redução do juro foi "pífia" e "decepcionante". Em uma nota, Skaf alfinetou: "Resta o consolo de que, com menos reuniões do Copom no ano novo, deverá reduzir-se proporcionalmente o número de decepções programadas para 2006".