Título: Criança que trabalha ganha menos na fase adulta
Autor: Raquel Salgado e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Brasil, p. A3

Quanto mais cedo a criança começa a trabalhar, menor será sua renda na fase adulta. É o que mostra o estudo "O Brasil sem trabalho infantil! Quando? Projeção de estimativas de erradicação do trabalho infantil, com base em dados de 1992-2003", divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Quem só trabalha depois dos 18 anos tem possibilidade de ter renda 85% maior do que teria se tivesse que trabalhar antes, conclui o estudo divulgado ontem. "As médias salariais maiores concentram-se nas mãos daqueles que iniciaram seu trabalho numa faixa de idade mais alta. Esse fato deve estar atrelado ao nível diferenciado de escolaridade e de preparo para o trabalho que esse grupo possui", salienta o levantamento que usou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE. Segundo o coordenador nacional do Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil (Ipec), Pedro Américo Furtado de Oliveira, "está provado que quem entra mais tarde no mercado de trabalho ganha muito mais ao chegar aos 60 anos de idade". Segundo Oliveira, "alguns pais acreditam que o trabalho infantil vai ajudá-los. Pode ajudar sim, naquele período, mas não vai fazer com que seus filhos consigam ter vida melhor que a deles no futuro." O estudo revela que em um domicílio com renda até R$ 1,8 mil, um aumento nessa renda não reduz o número de crianças na faixa de 10 a 17 anos que trabalham . No Brasil, 81% dos domicílios têm renda nessa faixa. Já no caso dos meninos e meninas entre 5 e 9 anos, para qualquer faixa de renda o aumento do salário ajuda a reduzir a proporção de crianças no trabalho. "Provavelmente, os programas de incentivo financeiro para a redução do trabalho infantil surtem maiores efeitos para a eliminação do trabalho infantil na faixa de 5 a 9 anos, sem atingir plenamente seus objetivos na faixa entre 10 a 17 anos", afirma a OIT. O relatório mostra que o país avançou muito na última década, mas erradicar o trabalho infantil ainda é um sonho distante. A estimativa é que, em 2015, ainda existirão 2,7 milhões de crianças trabalhando no Brasil. De acordo com esse cálculo, e considerando o ritmo atual de queda do índice, o trabalho infantil só estaria erradicado em 2022. Segundo a OIT, as regiões Nordeste e Sudeste são as que mais concentram, em números absolutos, crianças que têm a força de trabalho explorada no país. O Sudeste, por outro lado, é a região que, no período analisado, apresenta as maiores reduções de trabalho infantil na faixa etária de 10 a 17 anos. Dados de 2001 mostravam que, de um total de 3 milhões de crianças trabalhadoras, 1,5 milhão está no Nordeste, e 710 mil no Sudeste. Em 2003, em todo o país, 4,6 milhões de crianças nessa faixa etária estavam trabalhando. (Agências noticiosas)