Título: Furlan mostra desânimo em relação à taxa de câmbio
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Brasil, p. A4

Comércio exterior "Quem tiver sugestão que me traga", pede o ministro

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, demonstrou ontem, durante palestra para cerca de 500 exportadores reunidos no Rio, no 25º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), estar desanimado em relação à taxa de câmbio do país. "Infelizmente, não tenho uma palavra de conforto para a questão da taxa de câmbio", disse o ministro ao responder a uma pergunta de um exportador que quis saber até quando teria de vender com prejuízo para cumprir contratos já assinados. "Quem tiver sugestão que me traga, lembrando que grande parte das medidas para melhorar o câmbio depende de passar pelo Congresso Nacional", disse Furlan, acrescentando, como um complicador do problema, o fato de que 2006 é um ano eleitoral. O ministro acabara de fazer uma longa palestra, de mais de uma hora, exaltando o esforço e o sucesso exportador do país sem tocar no tema cambial. "Não falei de propósito", confessou ao responder a perguntas. "Concordo que o sucesso de hoje pode estar escondendo o problema de amanhã", acrescentou. Segundo o ministro, "já ficou comprovado que a simples compra de reservas (cambiais) não produz resultados". Furlan afirmou que nos últimos tempos o Brasil dobrou as suas reservas líquidas e mesmo assim o dólar não se valorizou. "Tenho a convicção que podemos estar incorrendo nos mesmos enganos que incorremos em outras épocas", disse. Mais tarde, em entrevista, o ministro afirmou que, apesar de não ser, sozinha, capaz de resolver o problema da taxa de câmbio, a estratégia do Banco Central (BC) de comprar reservas "não está equivocada". Para Furlan, o problema cambial começa pelo excesso de disponibilidade de dólares provocado até pela sucessão de saldos comerciais do país que, no acumulado de 2003 a 2005, deve ficar em torno de US$ 100 bilhões. "Você tem uma situação quase irreversível de excesso de oferta (de dólares)", constatou. Outra fonte de aumento da oferta seria o recurso dos exportadores ao mercado de Antecipação de Contrato de Câmbio (ACC) como forma de se capitalizarem. Furlan ressaltou também que a compra de reservas pelo BC acaba pressionando a dívida pública, porque exige a emissão simultânea de títulos da dívida para retirar do mercado o excesso de liquidez, em reais, provocado pelo pagamento dos dólares comprados. O ministro defendeu a atualização das leis que regem a política cambial do país para permitir, entre outras coisas, que as empresas possam fazer depósitos em dólares no Brasil e possam também usar os recursos obtidos com suas exportações para compensar dívidas lá fora, evitando a internação dos dólares. Segundo Furlan, ele já disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o problema cambial já está afetando vários setores, especialmente as pequenas empresas, e que o fato de as exportações estarem crescendo não deve mascarar esse fato. "A pequena empresa não resiste a dois, três meses de prejuízo", destacou. Segundo ele, o setor calçadista deixou de exportar 3 milhões de pares em setembro e 4 milhões em outubro, com reflexo no nível de emprego. De acordo com o ministro, embora as grandes empresas consigam ser mais competitivas, já há sinais negativos também entre elas. "O setor automotivo já acendeu o sinal amarelo", exemplificou.