Título: "Aftosa foi um alerta nacional", diz empresário
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Brasil, p. A4

Se for escolhido o candidato do PSDB ao governo de Goiás, o presidente do Friboi, José Batista Júnior, terá de enfrentar um páreo duro no Estado, onde o PMDB foi governo durante quatro mandatos e tem nomes fortes e conhecidos, como o do prefeito de Goiânia (GO), Iris Rezende e o do senador Maguito Vilela, ambos ex-governadores. Mas Batista Júnior acredita que tem chances de chegar ao governo goiano justamente por ser "um fato novo", alguém que até agora não tinha vínculos com partidos e que sempre evitou "tomar posições partidárias". "Não tenho passado político, tenho um bom trânsito no meio dos partidos, não tenho nenhuma rejeição", afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista com Batista Júnior: Valor: Qual é sua plataforma para o governo de Goiás? Como sua experiência como gestor poderia ajudar no governo? José Batista Júnior: Precisamos fazer uma gestão do poder público mais austera aproveitando o conhecimento que a gente tem de gestão empresarial. Precisamos fazer a capacitação dos servidores públicos, treinar os jovens, alfabetizar mais. Com isso, o Estado poderia ser um grande fornecedor não só de matéria-prima do agronegócio, mas de tecnologia. Além disso, precisamos industrializar e transformar as commodities, do agronegócio e minerais, em produtos de valor agregado. Precisamos dar continuidade aos programas sociais e colocar tolerância zero na ineficiência do Estado. Também precisamos enriquecer os municípios, industrializando cada vez mais, para dar melhor condição de vida às pessoas, levar o povo da zona urbana para a zona rural. Valor: Que indústria o senhor pretende atrair para o Estado? Batista Júnior: Precisamos, cada vez mais, industrializar a soja, o milho, o algodão, as carnes. Precisamos trabalhar na era do biodiesel. Criar condição para que o estado industrialize trazendo valor agregado e exportando. Além disso, temos de trabalhar uma forma no governo federal para legalizar o setor do agronegócio cada vez mais. Valor: O senhor quer dizer, reduzir a informalidade? Batista Júnior: Sim. Temos que aumentar a base de arrecadação, tirando o setor da informalidade, desonerando os encargos. Quando você aumenta a base de arrecadação, tirando o setor da ilegalidade, automaticamente passa a recolher mais. Acho que os impostos têm de ser pagos, mas tem de ser de uma forma responsável, ou seja, cobrar aquilo que realmente as pessoas conseguem pagar. Tem muitos impostos que você não agrega no produto porque a informalidade não deixa. Valor: O senhor está sendo comparado ao Blairo Maggi, governador do Mato Grosso, por vir do agronegócio. Quando ele foi eleito, foi acusado de empregar funcionários de suas empresas no governo. Como o senhor pretende separar os negócios do governo? Batista Júnior: Vou procurar separar bastante as coisas. Se for eleito, vou buscar uma equipe nova, comprometida com o governo, sem vícios do lado de gestão empresarial, que venha confundir Estado com empresa. Vou montar uma equipe sem tendência partidária, com pessoas comprometidas com gestão. Valor: Por que o senhor se filiou ao PSDB? Batista Júnior: Porque é um partido progressista, inovador e entendo que a reforma política se faz e começa através das pessoas. Acho que nós empresários não só financiamos as campanhas, mas temos de participar (em 2004, o Friboi doou R$ 600 mil para campanhas políticas, segundo o Tribunal Superior Eleitoral). Sinto que posso dar uma contribuição ao Estado e assim para o desenvolvimento do país. Valor: O que o senhor acha do governador Geraldo Alckmin e do prefeito José Serra? Quem sai candidato a presidente pelo PSDB? Batista Júnior: São dois candidatos muito bons. É muito cedo ainda para saber (quem sai). Vejo o Serra como um bom candidato, só que ele está comprometido na prefeitura. O Alckmin, eu já vejo um tanto mais liberado porque está terminando o mandato. Ele poderia sair sem nenhum complicador com os eleitores. Valor: O senhor acha que a descoberta da aftosa pode prejudicar Lula tanto quanto o apagão afetou o governo Fernando Henrique? Batista Júnior: Não é a aftosa que vai prejudicar o Lula. É uma somatória de erros e desencontros. A aftosa é mais um (erro) que não poderia ter acontecido e aconteceu. Foi um grande alerta nacional, de que a gente tem cumprir (os controles). O Brasil hoje está com compromisso muito grande no exterior. Houve erro do governo federal, do estadual, dos municipais, dos produtores, da indústria. Acho que precisamos fazer um plano de ação (contra a aftosa) "lincado" a um termo de ajustamento de conduta. Você dá prazos, mas cobra. (AAR)