Título: Presidente do maior frigorífico do país quer disputar o governo de Goiás
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Brasil, p. A4

O governador do Mato Grosso e maior produtor de soja do mundo, Blairo Maggi, fez escola. No Estado vizinho do Goiás, José Batista Júnior, presidente do Friboi, maior frigorífico de carne bovina do país, é um dos pré-candidatos do PSDB ao governo, ao lado do ex-secretário de agricultura e deputado federal, Leonardo Vilela e de Alcides Rodrigues, vice do atual governador goiano, Marconi Perillo. O empresário garante que nunca pensou em se candidatar a nenhum cargo político. Mudou de idéia depois de jantar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em agosto deste ano. O tucano foi convidado a participar de um jantar na Confraria da Carne, criada pelo Friboi. No encontro, ambos falaram sobre política nacional e a participação de empresários na vida pública. "Ele me perguntou por que eu não me filiava ao PSDB e eu disse que gostaria (de fazê-lo)". Depois da conversa com Fernando Henrique, afirma, veio o convite do governador Marconi Perillo. "Ele me convidou dizendo que precisava que eu me colocasse à disposição para servir Goiás pela minha experiência, pelo meu conhecimento do mercado internacional, de gestão, da minha ética". A comparação entre Batista Júnior e o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), é inevitável, e o presidente do Friboi acha que há, mesmo, muito em comum entre os dois e avalia que haverá uma "grande sinergia" caso ele seja eleito ao governo goiano e Blairo, reeleito, apesar dos partidos diferentes. "Eu e Blairo temos um perfil empresarial, progressista, de gestor". Para o pré-candidato, os dois poderão fazer de Goiás e Mato Grosso os representantes do Centro-Oeste e do agronegócio brasileiro. "Vamos trabalhar numa parceria, sem nenhum problema. Ele também está pelo desenvolvimento, não partidariamente. Nós sabemos o que é produzir, o que é industrializar, o que é capacitar as pessoas", afirma. Júnior não pretende fazer campanha em cima dos erros do governo na crise da febre aftosa: "Não é a aftosa que vai prejudicar o Lula. É uma somatória de erros dos governos federal, estaduais, municipais, dos produtores e da indústria. Foi um grande alerta nacional, de que a gente tem cumprir (os controles). O Brasil hoje está com compromisso muito grande no exterior" Além da melhoria da infra-estrutura nos Estados, Batista Júnior também quer reduzir a informalidade no setor de frigoríficos, freqüentemente lembrado por sonegar a Contribuição Para Seguridade Social, o antigo Funrural, que é descontado na comercialização da produção agrícola e tem de ser repassado pelas agroindústrias ao INSS (ver entrevista abaixo). Goiano de fala mansa que não perde a estribeira à toa e é firme ao tomar uma decisão, José Batista Júnior já fez de tudo, de apartar gado no campo a dirigir caminhão distribuindo carne. Chegou à elite do agronegócio brasileiro ao levar o pequeno abatedouro de sua cidade, Anápolis, ao posto de maior frigorífico brasileiro, com faturamento estimado de R$ 4,2 bilhões este ano. Aos 45 anos, ele entende que governar um Estado é mais complexo do que gerir uma empresa, mas afirma que não teme a empreitada. "Eu toda vida gostei de desafios", diz, recordando a história do próprio frigorífico, iniciada em 1953, quando seu pai José Batista Sobrinho começou a negociar bois para abate no interior de Goiás. "Hoje, o Estado está pronto, acho que está muito melhor que esteve tempos atrás", avalia. A decisão de Batista Júnior de entrar na vida pública ocorre num momento de mudanças no Friboi, conseqüência do crescimento da empresa, que este ano iniciou o processo de internacionalização com a compra do Swift Armour, maior frigorífico da Argentina. Para se dedicar à campanha, o empresário deixará a presidência do grupo em janeiro de 2006. O posto ficará com seu irmão Wesley Mendonça Batista. Também em janeiro, a empresa passará a ter um conselho de administração, presidido por outro irmão, Joesley Mendonça Batista. José Batista Júnior será membro do conselho. Ele explica que o quadro da diretoria está sendo "reforçado" por conta da aquisição do Swift, que ampliou o tamanho da empresa e suas exportações de carne. "Aceitei o convite (para ser pré-candidato) porque a empresa está muito bem. O Friboi não corre nenhum risco, não tem nenhum problema de gestão. Tenho dois irmãos, o Wesley e o Joesley, dois meninos supertreinados, contratamos vários profissionais na diretoria, estamos muito abertos a inovações, a mudanças." Quem conhece o grupo de perto, porém, teme que a saída de Batista Júnior tenha efeito nos negócios. "No Friboi, a união da família é essencial para o negócio", diz uma fonte. União que fica clara na história do grupo, criado em 1953. O pai de Batista Júnior, hoje com 72 anos, iniciou a vida "puxando" gado e vendendo para abatedouros. Em 1955, começou a abater bois e a vender a carne para açougues em Anápolis. Com o início da construção de Brasília, em 1957, mudou-se para a cidade criada nos arredores (hoje Núcleo Bandeirantes), para abrigar os trabalhadores que levantaram a Capital. Lá, abatia o gado e fornecia a carne para as cozinhas industriais que alimentavam operários. O primeiro dos seis filhos, José Batista Júnior, começou a trabalhar aos 14 anos, quando a família tinha um abatedouro em Anápolis. Trabalhava de dia e estudava à noite, e acabou não finalizando o segundo grau. Aos 17 anos, foi trabalhar na área comercial e distribuir carne no Distrito Federal. Naquela época, existia apenas o abatedouro de Anápolis. Hoje, o grupo, que atua também em higiene e limpeza e conservas vegetais, tem 17 unidades de carne no país.